tag:blogger.com,1999:blog-30716009806803801792024-03-14T10:07:21.791-07:00a das artes - leiturasLeitura e opiniãoa das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.comBlogger128125tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-29968910011867249732016-09-14T04:40:00.003-07:002016-09-14T07:16:24.153-07:00Ronda das mil belas em frol<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfzbimpmr_H_9d5Vm5_mdiZyOMjx4dHKawrYDZ_nGT6devZeOV3_vimDPC8sCHu6nTV7z5Kvqug61ZmCecGGB3wf2bRB4jid50CQTqD8fcHnCrzPzH1hDGJsOw360o7klnvtkG10RRr98/s1600/ronda+das+mil+belas+em+frol.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfzbimpmr_H_9d5Vm5_mdiZyOMjx4dHKawrYDZ_nGT6devZeOV3_vimDPC8sCHu6nTV7z5Kvqug61ZmCecGGB3wf2bRB4jid50CQTqD8fcHnCrzPzH1hDGJsOw360o7klnvtkG10RRr98/s320/ronda+das+mil+belas+em+frol.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b>
<b><br /></b><br />
<div class="MsoNormal">
<b>Ronda das mil belas
em frol<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Mário de Carvalho</i>, Porto, Setembro 2016<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Não há mais elegante delineio da Natureza que aquela
abençoada fenda, sulcada em macios conchegos, figurando duas mãos que rezam,
unidas ao alto, entrada de catedral, gasalho de mistério”</i> (P.99).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ao ler <i>Ronda das mil belas em frol</i> veio-me à ideia
quando uma pintora famosa me chamou ao estúdio onde provisoriamente trabalhava.
Tinha obras a meio e pediu-me para dar opinião sobre as mesmas.
Atrapalhadíssimo, olhei em volta a pedir apoio ao ar que me rodeava. Sem
sucesso. Mas o que importa para aqui é que reparei em inúmeros <st1:personname>livros</st1:personname>,
alguns, autênticos calhamaços, sobre desenho, pintura e escultura anatómica,
sobretudo clássica. Disse-me posteriormente a artista que se socorria deles
para se aperfeiçoar naquela área.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Também Mário de Carvalho parece ter coleccionado, como que
numa caderneta, os cromos que vislumbrou ao longo da vida, em filmes, <st1:personname>livros</st1:personname>,
conversas, boatos, sobre engates, traições, namoricos, quiçá sonhos molhados!,
para delinear de forma deslumbrante as suas personagens.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E que dizer da caracterização do “húmido santuário” ou
“Canyon secreto” de cada uma das parceiras desta ronda? Sublime. Tal como os
apontamentos anatómicos mais sensíveis ao macho.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Assumidamente um conjunto de contos eróticos, nunca a
linguagem perde a compostura. “Expressões que não me eram lembradas desde a
pornografia adolescente” (p. 22) não passam de frases como esta. Suponho que a
palavra mais ácida que vislumbrei, ácida pelo contexto, foi “crava!”, do verbo
cravar.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Uma breve nota para o índice. Não sei se deliberado mas,
numa observação atenta, qual vislumbre de cavalos alados em formações núbias,
leio ali um poema ao romance erótico, cada palavra um verso, começando em
“Calma” para terminar em “Rebate”, passando por “Proeza”, “Viravolta” e
“Audácia”, entre outros. O “Epílogo” conta para confirmar as referências
clássicas do autor, o amor à Língua.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O novo livro de contos de Mário de Carvalho lê-se de uma
penada. Não tanto pela curiosidade de espreitar pelo buraco da fechadura, mas
também!, mas, sobretudo pelo habitual primor da prosa, pelo vocabulário
emprestado que não se rende a modernices mas que, no entanto, não abdica da
modernidade.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Um livro essencial na bibliografia do grande Mário de
Carvalho.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Sines, 14 de Setembro de 2016
<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Joaquim Gonçalves<o:p></o:p></span></i></div>
</div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-73219114877328335272016-09-13T03:56:00.002-07:002016-09-13T03:57:10.124-07:00O meu nome é Lucy Barton<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitKtXzMOCFokp1GaJqAHVIw6nDj6PfaK3G1mNdS2j_XcKvMS0NUHryoNyPjbuqH5xYwghl9LOjZvZesxMal3g_Leh11KrH0CNHpF-SofT-m_PcdzC_xwujPDqlisiFFSNxbf1qYn7bQrc/s1600/o+meu+nome+e+lucy+barton.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitKtXzMOCFokp1GaJqAHVIw6nDj6PfaK3G1mNdS2j_XcKvMS0NUHryoNyPjbuqH5xYwghl9LOjZvZesxMal3g_Leh11KrH0CNHpF-SofT-m_PcdzC_xwujPDqlisiFFSNxbf1qYn7bQrc/s320/o+meu+nome+e+lucy+barton.jpg" width="202" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>O meu nome é Lucy
Barton<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Elizabeth Strout</i>, Alfaguara, Setembro 2016 </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nunca tinha ouvido falar da senhora, confesso. Segundo a
apresentação na badana, “[…] é uma das romancistas mais aclamadas da
actualidade”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Venceu o Prémio Pulitzer, em 2008, com o romance <i>Olive
Kitteridge</i> mas a profusão de prémios aliada à idade baralha-me a mente e,
muitas vezes, confundo tudo. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não tendo fixado o nome da autora, li sobre O <i>meu nome é
Lucy Barton</i> no suplemento Babélia, do El País, quando o livro saiu em
Espanha. Despertou-me curiosidade e, como acontece amiúde, fiquei com a pulga
atrás da orelha à espera do lançamento em Portugal não me tendo, desta vez, a
memória atraiçoado.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ora, não tendo o nome da autora devidamente encaixado na
memória e estando a ler um livro que tem, também, um nome no título, não raras
vezes, durante a leitura, fui à capa confirmar quem era quem quando durante a
prosa era mencionado um nome de mulher.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É que o romance tem como personagem principal e narradora
uma mulher que, numa cama de hospital, fala com a mãe, com quem perdera há
muito o contacto, sobre reminiscências das suas vidas, e connosco sobre o livro
que escreveu.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tudo isto baralha o leitor incauto ao ponto de o levar a
pensar que se trata de um romance autobiográfico. Parece mas, certamente, não o
será. É, sim, um livro muito bem escrito sobre relações humanas, família, o fio
da navalha de uma cama de hospital.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não sigo as opiniões generalizadas da comunicação social
internacional apostas na badana da contracapa, bem como a apresentação genérica
do editor de que se trata de um livro sobre as relações entre mães e filhas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Na realidade, as conversas entre Lucy Barton e a sua mãe,
expondo as suas relações, não são mais do que o fio condutor que nos deixa
inúmeras ramificações para outro tipo de relações – familiares, de amizade e da
pessoa com o próprio mundo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Elizabeth Strout, em cerca de cento e setenta páginas,
escreve-nos o mundo a partir de uma cama de hospital. Se o passado e os amigos
vão sendo relembrados, a família, apesar de todos os contributos do mundo para
a sua desagregação, tende a vingar, mesmo que de uma forma estranha.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Foi semifinalista do Booker Prize mas podia ter ido mais
além. <i>O meu nome é Lucy Barton</i>, da americana Elizabeth Strout, é um
livro que recomendo aos meus amigos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">Sines, 13 de Setembro de 2016 </span></div>
<i><span style="font-size: x-small;">Joaquim Gonçalves </span></i>a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-41878374795085366542016-05-16T04:36:00.004-07:002016-05-16T04:36:52.528-07:00A noite não é eterna<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3JN6Y-MgLX5ac4DbMTNdvTrUteRwzlrVQxmdTFq3kJJiFRFy4rrlDxjioAmqeqao7yqEuGGvxu5KAyvG4kbHKdAgA_1PvaCM2O1sE1MihTlpe7FjXT6mh55vhLgiGkcRW5Qta36bH6W0/s1600/a+noite+nao+e+eterna.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3JN6Y-MgLX5ac4DbMTNdvTrUteRwzlrVQxmdTFq3kJJiFRFy4rrlDxjioAmqeqao7yqEuGGvxu5KAyvG4kbHKdAgA_1PvaCM2O1sE1MihTlpe7FjXT6mh55vhLgiGkcRW5Qta36bH6W0/s320/a+noite+nao+e+eterna.jpg" width="212" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
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<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>A noite não é eterna<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Ana Cristina Silva<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Oficina do Livro, Fevereiro
de 2016, 198 páginas</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nada o será? A noite, o dia, a vida… E a morte, será eterna?
Nada será eterno, pois, se até a morte o não é ao cair no esquecimento. Mas
isto será uma questão filosófica que não quero, aqui, pautar. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A noite não é eterna cabe naquele grupo de <st1:personname>livros</st1:personname>
que se me pega. Vá para onde for, mesmo sabendo que não terei oportunidade de
ler, acompanha-me.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois da excelente surpresa de João Pinto Coelho, com o seu
Perguntem a Sarah Gross, é um privilégio da Língua o aparecimento de outra
narrativa de qualidade passada na História, a universal, que tem implicações no
rumo da Humanidade.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Se Pinto Coelho nos picou a memória do Holocausto, Ana
Cristina leva-nos ao tenebroso período de Ceausescu na Roménia. Curiosamente, em
qualquer dos <st1:personname>livros</st1:personname> há uma criança que nos
aperta o coração. Uma criança que são milhares.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Com grande à-vontade, a psicóloga da Educação que já tem dez
romances publicados, movimenta-se em trama e períodos históricos
diversificados, na geografia e na época.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A noite não é eterna não é mais um romance. Para além do
interesse que, desde as primeiras páginas, despertará em cada leitor é, também,
uma obra que merece a atenção de responsáveis nas áreas da educação e ensino
para aconselhamento de leitura a jovens frequentadores do ensino secundário.</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">Sines, 15 de Maio de 2016</span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: x-small;">Joaquim Gonçalves</span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">Do editor:</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">“A
Roménia, sob o jugo do ditador Nicolae Ceausescu, atravessa um dos piores
períodos da sua história, com a população a enfrentar a fome e dominada pelo
terror. Seguindo as orientações do Presidente para a criação de um exército do
povo no qual os soldados seriam treinados desde crianças, Paul, um ambicioso
funcionário do partido, decide levar de casa o filho de três anos e entregá-lo
aos cuidados do Estado. Quando a mãe se apercebe do desaparecimento do pequeno
Drago, o desespero já não a abandonará, bem como o firme desejo de acabar com a
vida do marido.<br />
Correndo riscos tremendos, Nadia não desistirá,
porém, de procurar o menino, ainda que para isso tenha de forjar uma nova
identidade, de fazer falsas denúncias, de correr os orfanatos cujas imagens
terríveis chocaram o mundo e até de integrar uma rede que transporta
clandestinamente crianças romenas seropositivas para o Ocidente. Mas será que o
seu sofrimento pode ser apaziguado enquanto Paul for vivo? Enquanto o ditador
for vivo?”</span><o:p></o:p></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-62986102350830844502016-05-05T09:03:00.004-07:002016-05-05T09:26:22.033-07:00À espera de Bojangles<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOVkARijAlnhc6zOUhFc9d5HSBRy3EQNye2m_7ddhxNsujU4LXX8bFFMXsUKowCFHC7-_DJg8Y3JstZ6if5RnUWetSu9RYZhT2gjHL7bkuxFUMgmV1LatQ9w34ZQM-gXkVVEfff6JMEEA/s1600/a+espera+de+bojangles.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOVkARijAlnhc6zOUhFc9d5HSBRy3EQNye2m_7ddhxNsujU4LXX8bFFMXsUKowCFHC7-_DJg8Y3JstZ6if5RnUWetSu9RYZhT2gjHL7bkuxFUMgmV1LatQ9w34ZQM-gXkVVEfff6JMEEA/s320/a+espera+de+bojangles.jpg" width="210" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b>À espera de Bojangles<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Olivier Bourdeaut</i>,</div>
<div class="MsoNormal">
Guerra & Paz, Abril de 2016</div>
<div class="MsoNormal">
193 páginas</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os <st1:personname>livros</st1:personname> devem ser lidos
até ao fim. Se dúvidas possam existir, Olivier Bourdeaut ajuda a dissipá-las
com este seu primeiro romance.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
À espera de Bojangles é um falso livro de humor. Quem, como
eu, o penetra de olhos fechados, sem outra informação que não a constante nas
badanas, vai sendo transportado numa viagem alucinada e alucinante que engana
quem, incautamente, apenas lê o que está escrito.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Já tínhamos sentido o mesmo com O centenário que fugiu pela
janela e desapareceu, de Jonas Jonasson.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Podia ser um romance sem pés nem cabeça, sim, se o escritor
francês não o tivesse pintado com a loucura das tintas naturais que a vida
oferece.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E a vida é uma loucura, sim, a que o amor tenta fazer frente
numa pulsão lenta mas que se tenta inquebrantável. Só assim se pode entender
como amor.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Este é, sim, um romance de amor. De grande, muito grande
amor, como só se imagina em tragédias romanescas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Com a omnipresente banda sonora a cargo do Mr. Bojangles, de
Nina Simone, Olivier Bourdeaut prova-nos, com À espera de Bojangles, que os <st1:personname>livros</st1:personname>
devem ser lidos até ao fim. Até ao fim, mesmo!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sines 4 de Maio de 2016 </div>
<div class="MsoNormal">
<i>Joaquim Gonçalves<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Sinopse do editor:</b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="background: white;">Sob o olhar maravilhado e
infantil do filho, um casal dança o Mr. Bojangles de Nina Simone. O seu amor é
mágico, vertiginoso, uma festa perpétua. Em casa deles só há lugar para o
prazer, para a fantasia, para os amigos. Quem dá o tom, quem conduz o baile é a
mãe, chama tremeluzente, fugidia e extravagante. Foi ela que adoptou o quarto
membro da família, a Menina Sem Préstimo, uma grande ave exótica que deambula
no apartamento da família. É ela que não pára de os arrastar, a todos, para um
turbilhão de poesia e de quimeras. Mas um dia ela vai longe demais. O pai e o
filho farão tudo para evitar o inelutável. Eles querem que a festa continue,
custe o que custar. Nunca a expressão «amor louco» foi usada com tanta
propriedade. O optimismo das comédias de Frank Capra, aliado à fantasia da
Espuma dos Dias, de Boris Vian.</span></i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white;"><b>O autor:</b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<i><span style="background: white;">Nasceu à beira do Oceano
Atlântico, em 1980. Recusando compreender o que ele queria aprender, o Sistema
de Ensino depressa o devolveu à liberdade. Nessa altura, graças à ausência de
televisão em sua casa, pode ler com abundância e vaguear sonhadoramente quanto
quis. Durante dez anos trabalhou no imobiliário, indo de falhanços a fiascos
com um entusiasmo crescente. Depois, durante dois anos, transformou-se no
responsável de uma agência de experts em chumbo, responsável por uma assistente
mais diplomada do que ele e responsável de caçadores de térmitas, mas os
insectos encarregaram-se de minar e roer a sua responsabilidade. Foi ainda
abridor de torneiras num hospital e factótum de uma editora de </span><st1:personname><span style="background: white;">livros</span></st1:personname><span style="background: white;"> escolares – na mouche – e apanhador de flor do sal de Guérande a
Croisic, entre outras coisas. Sempre quis escrever. À Espera de Bojangles é
disso a primeira prova disponível.</span></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-70404115215878366162016-04-18T10:55:00.003-07:002016-04-18T10:55:36.550-07:00Bem-vindos a Esta Noite Branca<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp6QLMXjj0IfSxt1y_mOMjA52oR5V9AyY8XgV2SJXK6gUo0E2N5l7vnv_0xA33Ilf94hPlv0AVG51s1RIf_2Bd-h0gx0_UdbV0zdfPVC-aG9uasfF7tGUJqs_c-wKhSjG-BO01e1s5xZY/s1600/Capa+preta+livro.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhp6QLMXjj0IfSxt1y_mOMjA52oR5V9AyY8XgV2SJXK6gUo0E2N5l7vnv_0xA33Ilf94hPlv0AVG51s1RIf_2Bd-h0gx0_UdbV0zdfPVC-aG9uasfF7tGUJqs_c-wKhSjG-BO01e1s5xZY/s320/Capa+preta+livro.jpg" width="223" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Bem-vindos a Esta Noite Branca<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Gonçalo Naves<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 8.0pt;">Edição de Autor, 2016<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Estava atrás do balcão da livraria quando entra uma cliente
que, embora habitual, com quem não tinha tido, até ali, grandes conversas que
não fossem de relação livreiro/cliente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Ó Joaquim, peço desculpa pelo assunto mas eu venho
pedir-lhe ajuda. É que o meu filho Gonçalo diz que está a escrever um livro –
está a escrever um livro! – já me deu a ler uns bocados e eu estou assustada!
Não sei o que fazer! Acho que aquilo é de mais para a idade dele, só tem 18
anos!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Assim começou a minha relação com este <i>Bem-vindos a Esta
Noite Branca</i> e o estreitar de relações com o Gonçalo e com a Ana Naves, sua
mãe.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A partir do momento em que abri o livro outro elemento se
juntou à família - Vasco Guerreiro Soares – personagem transversal à história,
catalisador de atenções e cuidados, motivo de zangas e traições. No meio de uma
família disfuncional – uma família típica, portanto <span style="font-family: Wingdings; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-char-type: symbol; mso-hansi-font-family: "Times New Roman"; mso-symbol-font-family: Wingdings;">J</span> - é-nos apresentado
aos seis meses de idade e crescemos com ele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Se explicação é necessária para a anomalia familiar, está
logo na primeira página:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“O peru já na mesa e único sinónimo para família junta” (p.
8)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Antes de continuar, permitam-me que faça apenas um breve
aviso: se esperam encontrar neste livro um romance, uma história daquelas que
dava um filme, não se iludam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O que me parece que o Gonçalo quis fazer foi dizer coisas.
Dizer coisas resultantes da sua acutilante observação do mundo e da rotina que
o rodeia. De modo a conseguir passar isso, inventou uma história que enroupasse
esse ensaio “cronicado”. E inventou muito bem!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há quem não goste que um autor seja protagonista ou tenha
voz na história alegando que, dessa forma, lhe causa algum ruído. Mas Gonçalo
Naves intervém sem que o ruído se sinta. É, aliás, nos apartes, espalhados
entre-parêntesis, que o autor se manifesta. E fá-lo, quantas vezes, a brincar
com as palavras. O rasto da mensagem perdura. Não se inibe, mesmo, de chamar o
leitor à liça, como que o convidando a participar na realização do enredo,
sacudindo algumas das suas angústias imaginativas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Reparem:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“(o problema da angústia destas personagens em colisão umas
com as outras e sem entendimento suficiente umas para as outras. Todas elas
estruturas concebidas sobre fundações de confiança escassa. Todas elas abanando
por tudo o que é lado e por isso cada uma delas ignorante em relação às outras
e a tudo. A personagem principal talvez o espaço (o espaço sem dúvida) em que
existem porque, se bem virmos, é esse espaço que as regula e lhes dá a vida tão
necessária para continuarem em colisão. E esta escrita tão dura porque inventar
pessoas, que coisa mais difícil. Mas de criador nada tenho. A maneira como as
palavras se constroem e vão dando entrelinhas a pessoas inventadas é-me um
mistério. Vou guardando afeição por algumas delas. E depois o tempo a criar-se,
dá-me continuidade e coloca-se responsável por tudo o que é detalhe. Uma
corrente de ar e não tarda eu doente de cama. Melhor assim porque se eu doente
de cama talvez as personagens doentes e se as personagens doentes de cama
talvez incapazes de continuarem em colisão. Agora um cão tão bonito a
queixar-se da velha infância que nunca teve. Também ele um mar em forma de
silêncio, algumas pétalas descaídas pelos membros. Escrevo porque lhe escuto o
deserto. Acompanha-me os dedos que correm cada vez mais rápido e vê-me o vómito
em forma de desrespeitos à gramática. As personagens e os <st1:personname>livros</st1:personname>
com particularidades. Ganham vida e constroem-se de forma independente de mão
alheia. Começam a ter vontade própria e aí já nada a fazer, observar apenas,
que nada melhor há. Na cozinha chora-me a Inês e na sala o João sem ver
importância nisso. Têm filhos, pais e uma casa que só é possível porque o preto
da tinta e o branco da página têm tamanha perfeição no contraste. O autor que
nunca o foi perde o poder que nunca teve e passa a ser um espetador (espetador
que estranho isto), um leitor no meio de todos os leitores. Eu assim neste
momento. Não posso ter mando no que escrevo.)”</i> (P. 44)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Se no jantar de Natal com que começamos o enredo nos são
apresentados os elemento principais da família, esta vai sendo acrescentada ao
longo das páginas, somando-se ainda os amigos, alguns dos quais que, de tão
próximos, se confundem… ou não. Nalguns casos ficamos a pensar que “ali há
gato!”. Mas, isso, deixo-vos para a leitura.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Do médico ao mecânico, sucedem-se personagens que, de tão
bem retratadas, puxam a obra para um realismo tantas vezes esquecido. Senão,
vejamos se não conhecemos de qualquer lado este mecânico:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Mas o mecânico, de quem estava eu falando, mestre Salgado
como o tratavam (alto, cabelo preto, um nariz desproporcional, mãos de quase
meio metro), não mudou de lugar a oficina. Era um homem vivido (aprendi esta
expressão com o meu pai, ele que mal vê um homem com que se lhe simpatiza a
inteligência é esse o primeiro dito que diz, é um homem vivido) não mais que
sessenta anos, menos que cinquenta com certeza que também não, fato de macaco
sujo de tinta e suado de pneu. Ninguém o tinha como grande culto para os
saberes das literaturas e das matemáticas e essas coisas inerentes a doutores
mas de jipes nada havia que não soubesse. Dominava motores e arriscava-se em
pinturas mirabolantes, com vários tons de luminoso. As feições tinha-as mas
estragadas, queimadas pelo tempo, será a solidão um lugar que cansa e onde as
noites custam a passar. O andar tinha-o esquisito e fazia questão de mostrar
aos que menos conhecia um lenho já em cicatriz na barriga da perna. Marcas de
guerra para sempre ficam, no físico e no psíquico, quem lá esteve que me
confirme ou me desminta. Fizeram-nos uma emboscada, pá. Os pretos apareceram em
magote e começaram a disparar, pá. Um tiro acertou-me nesta perna e senti o
ventinho de outro rasar-me a orelha, pá. Consegui andar dali p’ra fora e andei
fugido quase duas semanas. Guerra não é p’ra meninos minha senhora, todos estes
ditos dele oriundos, que já se viu de ter sido belo frequentador da já nossa
conhecida Universidade da vida.” </i>(P. 23-24)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Se isto é realismo, também há magia em Bem-vindos a Esta
Noite Branca, história onde até os mortos falam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas, sobretudo, é com a realidade dos dramas do nosso
desgraçado quotidiano que Gonçalo Naves se preocupa. Desgraçado, digo bem.
Basta entrar na intimidade desta família, ou no hospital, ou no lar de idosos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não julguem que a juventude do Gonçalo não se nota no livro.
Mas, a traição conjugal, o machismo, o aborto, os sem-abrigo, a velhice (!) são
abordados por este jovem, agora já crescido de 19 anos, com uma maturidade
impressionante. Onde é que ele viu tudo isto, onde é que viveu tudo isto para,
de caneta em punho, nos chamar a atenção para o mundo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A viagem para o branco. Ai, querem branco?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Eram as paredes brancas e havia um cheiro a cadáver
envenenando a cara de quem lá fazia entrada. A primeira sala por que passava
António até alcançar o quarto da mulher era um sítio com uma infinita extensão
de branco. Retangular, para dez metros de branco uma porta cinzenta que dava
caminho para sítio desconhecido. Fria e feia e, quando se abria, mais camadas
de branco infinito trazia. Na sala havia uma mesa também retangular e várias
cadeiras em volta, nas cadeiras sentavam-se velhos, velhos caducos, podres,
prontos para deitar fora. Nunca estava Marta entre essa velhice, seria
especial, deles se destacando, pelo melhor ou pelo pior nunca haverá
conhecimento. Todos os velhos imóveis, sentados, os olhos apedrejados de
passado. Não se percebia que tipo de velhice tinham derivado a serem demasiado
naturais dentro dela. Em redor da mesa eram uns sete sentados, o tronco
curvado, as mãos tremendo, um havia que se destacava. Vestia um casaco preto
perfeitamente limpo, os bolsos a transbordarem de memórias, nem um único ponto
em que perfeição não estivesse presente. No cocuruto da cabeça ainda lhe
resistiam alguns cabelos brancos que, envergonhados, com as paredes se
confundiam. Faltava-lhe força para demonstrar fraqueza, todos eles eram sós mas
aquele velho seria mais só que os outros. Sempre que António passava por aquela
sala fixava-se o velho nele e, perturbado, desviava António o olhar
assemelhando-se assim a homem louco, tudo em volta olhava menos o velho e assim
evitando dar de frente com a morte que carregavam aqueles olhos. Tentava o
velho seguir-lhe o olhar mas já para aquilo não tinha andamento, compreende-se
as consequências da avançada idade, não será assunto de desprimor. O impasse só
cessava com o olhar do velho perdendo-se onde já não havia entendimento.”</i> (P.
84)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Bem-vindos a Esta Noite Branca. Que metáfora!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Todos os velhos imóveis, sentados, os olhos apedrejados de
passado”</i> (p. 84).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Grândola, 9 de Abril de 2016 <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Joaquim Gonçalves<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 8.0pt;">(Texto lido na apresentação na
SMFOG - Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense)<o:p></o:p></span></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-2408240200491226552016-02-19T04:07:00.002-08:002016-02-19T04:16:45.848-08:00Rio do Esquecimento<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJSeyOnIS7xXEMwEr6a5zfrohLuTVCOARxIaT-OKxepfRtVHsCP3lBuovaRuGSD9M-VOD2pqFGUJbwL8gin6JtkAD3inrqa-SnVvYe1kC5lKhMadq1QEkKTJtxjIFplS9XZsYieQfwwoU/s1600/Rio+do+esquecimento.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJSeyOnIS7xXEMwEr6a5zfrohLuTVCOARxIaT-OKxepfRtVHsCP3lBuovaRuGSD9M-VOD2pqFGUJbwL8gin6JtkAD3inrqa-SnVvYe1kC5lKhMadq1QEkKTJtxjIFplS9XZsYieQfwwoU/s320/Rio+do+esquecimento.jpg" width="214" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Rio do Esquecimento<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Isabel Rio Novo</i>, D. Quixote, Fevereiro 2016</div>
<div class="MsoNormal">
Finalista do Prémio Leya 2015</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Terminada a leitura de Rio do Esquecimento, fica-nos a
sensação de ter lido um jornal antigo. Daqueles que se encontram em bibliotecas
ou nas gavetas do esquecimento em casas de famílias antigas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Admito que, por uma mistura de exiguidade de tempo e
preconceito, apenas folheei o anterior Histórias com Santos, pequeno livro de
contos editado pela Simplesmente, também de Isabel Rio Novo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Neste romance, agora editado pela D. Quixote, deparamo-nos
com uma escritora madura, sabedora do que quer, daquilo que quer dar e mostrar
e, finalmente, para onde quer levar o leitor.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não sendo propriamente adepto de avanços e recuos
cronológicos no decorrer de um romance, admito que, neste, tal é feito com tal
mestria que em nenhum momento me senti baralhado.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O sonoro Rio do Esquecimento – lá para o meio perceberão
porque sonoro – transporta-nos para o século de oitocentos, na cidade e região
do Porto, quando os brasileiros de torna-viagem chegam, uns de mãos a abanar,
outros, de paletó e bolsos cheios para gastar na construção de uma vida e
cidade de fausto.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pelo meio, o romance. Amores, desamores, crime e traições,
tão ao jeito de Camilo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Isabel Rio Novo muniu-se de vasta informação para nos levar
pela mão em visita às ruas e costumes de um Portugal de fausto e miséria. Ao
aproximarmo-nos do final da trama, essa informação começa a pesar um nadinha.
Nada de grave, perdoável pela curiosidade que nos desperta o desenlace.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não fosse o livro publicado segundo o chamado novo acordo
ortográfico e teria quatro estrelas. Asssim, ficamo-nos pelas três. Só por
isso.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Sines, 19 de Fevereiro de
2016 <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Joaquim Gonçalves<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Do editor:<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #333333; font-family: "arial"; font-size: 8.0pt;">Inverno de 1864. Sentindo a morte a aproximar-se, Miguel
Augusto regressa do Brasil, onde enriqueceu, e instala-se no velho burgo
nortenho, no palacete conhecido como Casa das Camélias, com a intenção de
perfilhar Teresa Baldaia e torná-la sua herdeira. No mesmo ano, Nicolau
Sommersen pensa em fazer um bom casamento, não só para recuperar o património
familiar que o tempo foi esfarelando, mas sobretudo para fugir à paixão que
sente por Maria Adelaide Clarange, senhora casada e mãe de três filhos. Maria
Ema Antunes, prima de Nicolau e governanta da Casa das Camélias, hábil e
amargurada com a sua vida, urdirá entre todos uma teia de crimes, segredos e
vinganças. Subvertendo as estratégias da narrativa histórica, com saltos
cronológicos que deixam o leitor em suspenso mesmo até ao final, "Rio do
Esquecimento" descreve com saboroso detalhe a sociedade portuense de
Oitocentos e assinala o regresso à ficção portuguesa de uma escrita elegante
que consegue tornar transparente a sua insuspeitada espessura.</span><i><span style="font-size: 8.0pt;"><o:p></o:p></span></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-15059009693138648882016-02-13T10:58:00.005-08:002016-02-13T10:58:45.535-08:00A cova<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinTeaQPlDUls89dQu5FrGvKeJQCtap8Nun1ev28Z7Tp9kTp_5Mc0Sw6QVF4pj77Jo4BANY3RvswU640bH0BxrT3bPERGUJSF8iUHdNB0UPLA0hLHdwlgsJDJk_ETBulMRzB9KqbrQBLqo/s1600/a+cova.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinTeaQPlDUls89dQu5FrGvKeJQCtap8Nun1ev28Z7Tp9kTp_5Mc0Sw6QVF4pj77Jo4BANY3RvswU640bH0BxrT3bPERGUJSF8iUHdNB0UPLA0hLHdwlgsJDJk_ETBulMRzB9KqbrQBLqo/s320/a+cova.jpg" width="210" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>A cova<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Cynan Jones</i>, Cavalo de Ferro, Janeiro 2016 </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Acabar de ler um livro e pensar logo noutro pode não ser um mau
presságio. No caso vertente não o é. Mesmo!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Terminado o romance A cova, do inglês Cynan Jones, veio-me à
lembrança a Trilogia da cidade de K, de Ágota Kristóf, que inclui O caderno
grande, A prova e A terceira mentira.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Na realidade, já nem me lembro bem da história, cujos
personagens principais são os gémeos Lucas e Claus. Todavia, o que interessa
para aqui é a impressão que ficou e, passados mais de dez anos, renasce com a
leitura de outro livro. É alguma coisa.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;"><i>Joaquim Gonçalves</i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Informações do Editor<span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Sinopse:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; font-size: 10.0pt;">No interior
rural do País de Gales, Daniel procura sobreviver à recente e traumática morte
da sua mulher e ao sentimento de perda e vazio, ocupando-se da sua quinta e dos
seus animais. O seu frágil mundo, ditado pelo respeito pela natureza e pelo
ciclo das estações, cruzar-se-á de forma violenta e trágica com o do seu
vizinho, homem igualmente solitário, mas feroz, que se dedica à caça
clandestina ao texugo, espécie protegida, para fins ilegais. Ao mesmo tempo
poético e de um realismo brutal, «A Cova» oferece uma visão desapiedada do
mundo rural moderno e da devastação moral e ecológica do nosso tempo.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Opiniões:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">“<span style="background: white;">Livro vencedor dos prémios Wales Book of the Year Fiction Prize 2015 e
Jerwood Fiction Uncovered 2014<span class="apple-converted-space"> </span></span><br />
<span style="background: white;">Publicado, entre outros países, em Espanha,
Alemanha, Itália, França, Estados Unidos.</span><br />
<br />
<i><span style="background: white;">«Não há dúvida que Jones é um dos mais
talentosos escritores da Grã-Bretanha.»</span></i><br />
<span style="background: white;">Independent on Sunday</span><br />
<br />
<i><span style="background: white;">«Um romance maravilhoso… Contém ecos de Ted
Hughes, Cormac McCarthy e Ernest Hemingway.»</span></i><span style="background: white;"> The Times</span><br />
<br />
<i><span style="background: white;">«Um romance intenso sobre o isolamento e a
perda, escrito numa prosa maravilhosa e essencial.»</span></i><span style="background: white;"> Observer</span><br />
<br />
<i><span style="background: white;">«O retrato profundo, intenso e completamente
absorvente de um mundo rural escondido.»</span></i><span style="background: white;"> Guardian</span><br />
<br />
<i><span style="background: white;">Jones dirige-se ao leitor com uma sinceridade
poética devedora de Dylan Thomas… É um livro que vos penetrará até aos ossos e
vos assombrará.»</span></i><span style="background: white;"> Daily Telegraph</span><br />
<br />
<i><span style="background: white;">«Cada frase foi perfeitamente esculpida para
fazer medrar uma rica poesia a partir da matéria da vida rural.»</span></i><span style="background: white;"> New Statesman</span><br />
<br />
<span style="background: white;">No interior rural do País de Gales, Daniel
procura sobreviver à recente e traumática morte da sua mulher e ao sentimento
de perda e vazio, ocupando-se da sua quinta e dos seus animais. O seu frágil
mundo, ditado pelo respeito pela natureza e pelo ciclo das estações,
cruzar-se-á de forma violenta e trágica com o do seu vizinho, homem igualmente
solitário, mas feroz, que se dedica à caça clandestina ao texugo, espécie
protegida, para fins ilegais. Ao mesmo tempo poético e de um realismo brutal,
«A Cova» oferece uma visão desapiedada do mundo rural moderno e da devastação
moral e ecológica do nosso tempo.”</span><o:p></o:p></span></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-11079563677092697632015-02-23T10:42:00.004-08:002015-02-24T02:08:31.478-08:00Desamparo - Inês Pedrosa<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiL55I3f2HuxuY0YOzsmsmGWWQPF-T7g9lYgX9UGfXLgqIZXnFEQercwyg06SI3KRckU-I2SIyQ8zfVJabbQUqoBgSB_Cu5JgHgfUH8c_xkuXcuyAyKmb4IhPotgIyY8Gmb0GcT_DlQ4JU/s1600/desamparo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiL55I3f2HuxuY0YOzsmsmGWWQPF-T7g9lYgX9UGfXLgqIZXnFEQercwyg06SI3KRckU-I2SIyQ8zfVJabbQUqoBgSB_Cu5JgHgfUH8c_xkuXcuyAyKmb4IhPotgIyY8Gmb0GcT_DlQ4JU/s1600/desamparo.jpg" height="320" width="213" /></a><span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;"><b>Desamparo</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;"><i>Inês Pedrosa</i></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">D. Quixote, Fevereiro 2015</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">Entrei à cautela.
Já várias vezes iniciara </span><st1:personname><span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">livros</span></st1:personname><span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">
de Inês Pedrosa mas, por um ou outro motivo, não terminei nenhum. Para explicar
isso, a ter mais em consideração os temas ou, mesmo, o meu estado de espírito,
do que a qualidade literária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">Neste início de ano, entre inventários,
arrumações, devoluções e outros aborrecimentos que nada têm de criativo, os
dias foram passando com a ida às prateleiras de casa em busca de algo não novo
já que, durante o ano, tento andar a par do que sai, principalmente de autores
portugueses.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">Assim, reli Almada Negreiros e José
Gomes-Ferreira, por exemplo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">De vez em quando temos de voltar atrás para que
o espírito crítico não se perca. Acho eu!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">Entrei à cautela em “Desamparo”. Fui andando
pela casa. Desfiz alguns preconceitos e minimizei outros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">Apesar de, daqui a uns anos, ser livro datado,
agora é absolutamente actual. Talvez o copo meio cheio funcione aqui. O livro é
absolutamente actual, quase ao mês tornando-se, por isso, um livro datado daqui
a algum tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">Bem escrito, será frase banal mas, atendendo ao
que vai aparecendo por aí, há que referi-lo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">Portugueses brasileiros ou brasileiros
portugueses cruzam-se numa história em que o que mais conta são os recados.
Acima de tudo, a denúncia embrulhada num romance que se lê avidamente. Para
além de temas caros à autora, como a condição da mulher, não faltam os
compadrios autárquicos e o proveito pessoal em detrimento do serviço público.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">Como é referido em contracapa<i>; “</i></span><i><span style="background: white; font-family: Arial; font-size: 11pt;">O amor,
a traição, o poder, a inveja, o ciúme, a amizade, o crime, o medo, a vingança e
sobretudo a morte atravessam este livro que faz a radiografia do Portugal
contemporâneo, num enredo cheio de força e originalidade.”</span></i><span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">Se o romance se vai lendo com interesse,
acreditem que ainda melhora para o fim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">Ainda nas palavras do editor, para quem tenha
mais curiosidade sobre o assunto de “Desamparo”, aqui vai o resto da sinopse do livro:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">“</span></i><i><span style="background: white; font-family: Arial; font-size: 11pt;">A saga de uma mulher, Jacinta
Sousa, que foi levada do colo da mãe para o Brasil aos três anos e regressa
para a conhecer mais de cinquenta anos depois é o ponto de partida deste
extraordinário romance de Inês Pedrosa. "No Brasil eu sempre fui a
Portuguesa; em Portugal, passei a ser a Brasileira".</span></i><i><span style="font-family: Arial; font-size: 11pt;"><br />
<span style="background: white;">Numa escrita inteligente, límpida e plena de
humor, a autora cria um universo singular, uma aldeia em que se cruzam
personagens e histórias de vários continentes.</span><br />
<span style="background: white;">Emigrações e imigrações de ontem e de hoje,
seres solitários e escorraçados que procuram novas formas de vida, enquanto
tentam sobreviver à maior depressão económica das últimas décadas.</span></span></i><i><span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 11.0pt;">”<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 8.0pt;">Sines, 23 de Fevereiro de 2015<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<i><span style="background: white; color: #141823; font-family: Helvetica; font-size: 8.0pt;">Joaquim Gonçalves</span></i><i><span style="font-size: 8.0pt;"><o:p></o:p></span></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-4470009224026165532013-10-16T09:47:00.003-07:002013-10-16T09:47:47.481-07:00A velocidade dos objectos metálicos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC_x0mvjtkZt9eXa0gxgW1P7zZLKdaTpIyydunMOqr6zd89SUXl3HJy-3aBVKRahR09RKy2HqMxnSCe2X7Ey07Jp3hhAtxy2ey2cZZjI5GR_c4QSwJ9dMxNEzkp2hsWzEw4qn-u1LP8yc/s1600/A+velocidade+dos+objectos+met%C3%A1licos+CAPA.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC_x0mvjtkZt9eXa0gxgW1P7zZLKdaTpIyydunMOqr6zd89SUXl3HJy-3aBVKRahR09RKy2HqMxnSCe2X7Ey07Jp3hhAtxy2ey2cZZjI5GR_c4QSwJ9dMxNEzkp2hsWzEw4qn-u1LP8yc/s320/A+velocidade+dos+objectos+met%C3%A1licos+CAPA.jpg" width="209" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>A Velocidade dos Objectos Metálicos</b><br />
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Tiago R.
Santos, </span></i><span style="font-size: 10.0pt;">Clube do Autor, Setembro de
2013</span> <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não escrevo sobre livros. Isto é, como crítico. Parece-me
que, para o fazer, precisava de ter formação nas áreas das literaturas, que não
tive, e leitura de muitos clássicos, que não fiz.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não sou, apesar disso, imune ao que os livros dizem e à
forma como o dizem.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não tendo os clássicos na bagagem, tenho, todavia, muitos
milhares de páginas lidas, umas, mais, outras, menos atentamente.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não li muitos clássicos, duvido até dessa classificação,
mas, dentro do meu ecletismo, consigo fazer escolhas, tomar opções, sobretudo
tecer juízos, nos parâmetros que o meu cérebro foi delineando automaticamente
com o tempo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não escrevendo sobre livros, escrevo a partir de alguns dos
que vou lendo. Nunca o faço quando a leitura não me agradou.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É o despertar dos sentidos que a leitura me provoca que leva
à escrita. Porque também gosto de escrever e, ao fazê-lo a partir de uma obra
de que gostei, como que me aproprio um pouco dela. Ao escrever, o livro
torna-se mais um bocadinho meu.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Por outro lado, como livreiro, ofereço a quem me lê, o
pulsar que o livro me provocou.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há livros sobre os quais é fácil escrever. Pela história,
pelo enredo, pelo tema, porque são fáceis de trabalhar a partir de uma ou outra
situação que se lhe roubo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Outros, há, que não são pêra doce. Ou porque nos
ultrapassam, fazendo-nos sentir pequenos à sua sombra, ou porque são difíceis
de traduzir em palavras, ou… ou por muito outro motivo. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quando as editoras, as que o fazem, apresentam novidades ao
livreiro, apostam sempre mais num ou noutro título. Alguns, no entanto, não
passam da simples menção ou exibição da capa. Foi o caso.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sendo, como referi, algo eclético, desde algum tempo que,
sem intenção premeditada, tenho uma grande curiosidade por autores novos ou
desconhecidos, sobretudo de língua portuguesa.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Aqui chegado, nesta breve arenga em que era pressuposto
falar de um livro, tenho de confessar que não consigo. Sinto-me vazio. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É novo, o autor. Chama-se Tiago R. Santos. É o seu primeiro
romance, o livro, e tem por título <i>A Velocidade
dos Objectos Metálicos</i>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não me foi “empurrado” pela editora – fui eu que o escolhi.
Deliberadamente. Pela curiosidade de que falei.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois de lidas as suas perto de 180 páginas percebemos que
é um romance. Até lá, lemos capítulos que são contos com ligações entre
personagens. No fim, a cabeça do leitor dá o nó. E o leitor fica, também, com
um nó – na garganta. E um vazio no estômago. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sobre a história que o livro conta não faltam recensões na
imprensa. E para aí remeto quem disso queira saber. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pela minha parte, apenas consigo recomendar veementemente a
sua leitura. Lendo-o ficamos a conhecermo-nos melhor e ao mundo em que vivemos.
</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tiago Santos é um miúdo com menos de 40 anos. Quantos de nós
o somos? </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Apostada na capa está a frase: “O mundo dos adultos não é
para crianças”. Não é, não. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Era para escrever sobre um livro e acabei por falar mais de
mim. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>«“Respice finem”.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Não sei o que é que
isso quer dizer”.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Tens a frase desenhada
no braço”.<br />
O rapaz olha para a sua própria tatuagem.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Olha para o fim,
considera o resultado. É isso que quer dizer. Agora já sabes”, acrescenta o
velho.» </i>(p. 176).<i><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois desta situação, apetece-me dizer: - Agora, tenho que
pensar melhor, pai. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">Sines, 16 de Outubro de 2013</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: x-small;">Joaquim Gonçalves</span><span style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-51026965653976653892013-10-12T08:20:00.002-07:002013-10-12T16:32:02.675-07:00O tempo do Senhor Blum e outros contos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwaCBkiNhPn_KSvJNm2u4lLfDHLfO9OAiPxCx6lxwT62pZY8twGoGTRt8o8VlFp6fHSfrJok7pX-0YcVFu1zDTWgpVo60UIKZTygWLd_CuuviV7OwJSaVjfjVBJsAxtsdrnFY4Veant2E/s1600/O+tempo+do+Senhor+Blum+e+outros+contos.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwaCBkiNhPn_KSvJNm2u4lLfDHLfO9OAiPxCx6lxwT62pZY8twGoGTRt8o8VlFp6fHSfrJok7pX-0YcVFu1zDTWgpVo60UIKZTygWLd_CuuviV7OwJSaVjfjVBJsAxtsdrnFY4Veant2E/s320/O+tempo+do+Senhor+Blum+e+outros+contos.jpg" width="250" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>O Tempo do Senhor Blum e outros contos<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;"><i>Marlene Ferraz</i>, Município de Montemor-o-Velho, Setembro 2013 </span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Senta-se no chão de terra, à sombra de qualquer coisa: uma
árvore, um arbusto, à sombra das asas de uma borboleta. Olha as flores e entra
dentro delas, sorvendo-lhes a essência.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Com os olhos grandes de menina vê o mundo à sua volta e
arrecada o seu pasmo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A Terra. O Homem. Os brinquedos estão ali, à disposição de
qualquer um. Mas nem todos os vêem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
À menina, cabisbaixa, olhos curiosos, sempre os olhos, nada
passa despercebido. O que vê e o que sabe que está para lá do visível, mas não
entende. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A aldeia. Os animais. A flora – ai as flores! – Os velhos.
Histórias de muito longe no tempo, tudo guarda numa caixinha.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ensimesmada, fantasia o ininteligível com as vestes que
encontra ali à mão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pega na Terra crua, vai aprendendo a conhecer até ao amor, e
coloca lá o Homem.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Com a lâmina da curiosidade, esventra-o sob as roupas
mundanas e, à sombra da memória de ditos e subentendidos, arranca-lhe a alma
aos pedacinhos. Como algodão em rama.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Dessa alma humana ancestral escorrem, gelatinosas, letras
que a menina guarda na concha da mão como passarinhos caídos do ninho.
Acaricia-as e aquece-as com o bafo perfumado da sua inteligência. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Salvas, assim, de se perderem, a menina molda-as de noite e,
de dia, fá-las repousar ao sol. Para secarem lentamente umas ao lado das
outras, em grupos, algumas isoladas. E, assim, crescerem firmes em frases
nascidas da sua imaginação. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A menina! A menina vive naquele mundinho dentro do mundo
grande que ouve dos mais antigos. Finge que não cresce para que possa ir e vir
entre o Mundo e o seu refúgio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E é aí que guarda os senhores, as inutilidades, os
quotidianos, a tradição, as imperfeições, o doce e o amargo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Guarda o tempo para repartir em devido tempo. E terra. Muita
terra para dosear nas palavras que cose ao sol de uma maturidade escondida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A menina é curiosa. Guarda o que ouve numa caixa mágica,
onde esconde as letras que lhe sobram do assalto à alma, e mistura-as com as
suas fantasias, com uma dedicada delicadeza que não chega para disfarçar a
dureza das relações. Da Vida.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Um dia, pega em todos aqueles brinquedos, coloca-os em cima
de um lençol, alinhadinhos, e dá-lhes nomes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vai desfazer-se deles. Sabe que pode revisitá-los mas jamais
voltarão a ser seus.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não é, todavia, gratuitamente que a menina no entrega os
brinquedos. Marlene Ferraz sabe que, ao dar-nos a ler os seus contos, já está a
arrancar-nos bocadinhos de alma.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Para continuar o ciclo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Sines, 12 de Outubro de 2013</span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Joaquim Gonçalves <o:p></o:p></span></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-20057104593395922202013-09-25T07:49:00.001-07:002013-09-25T07:49:20.138-07:00Índice médio de felicidade<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmOj9OnJGoU9rjDMuTITZa6LMvkMAgW1iBAXToONJ2GpfQCRw2-2hSA5wV2IcuZTfk3gZ-LJMjA8QoGs0OurB0i39RnjDe8TQQ49RpW-YI6Y2fFMdJ5r19PkPh7Onn5az-bx7sX3q9TeU/s1600/%C3%ADndice+m%C3%A9dio+de+felicidade.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmOj9OnJGoU9rjDMuTITZa6LMvkMAgW1iBAXToONJ2GpfQCRw2-2hSA5wV2IcuZTfk3gZ-LJMjA8QoGs0OurB0i39RnjDe8TQQ49RpW-YI6Y2fFMdJ5r19PkPh7Onn5az-bx7sX3q9TeU/s320/%C3%ADndice+m%C3%A9dio+de+felicidade.jpg" width="215" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Índice médio de felicidade<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>David Machado</i>, D.
Quixote, Agosto 2013</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Numa escala de 0 a
10, quão satisfeito se sente com a vida no seu todo?”</i> (pág. 24)</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quantas vezes, se alguma, paramos para pensar numa pergunta
deste género? É possível que algumas. A questão, talvez, formulada de outra
maneira e, nesse caso, possivelmente, numa situação extrema – ou crise ou muita
felicidade.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tomando como fio condutor esta questão, David Machado
escreveu um livro que, penso, não deixará os leitores indiferentes.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A história acabada conta-se em cerca de 250 páginas, pela
voz de um narrador, aliás, de um personagem que fala com um amigo ausente, na
prisão, mas como se o mesmo o estivesse a ouvir. A conversa gira à volta destes
dois e de um outro, Xavier, também ausente, que fecha o trio.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Por causa da
esperança ficamos com a vida cheia de pontas soltas. Não é bom acordar todos os
dias com a vida cheia de pontas soltas.”</i> (pág. 250)</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Falar deste livro era uma ponta solta que me perseguia desde
que, a alguns dias, terminei a sua leitura.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas há sempre uma e outra coisa que se nos atravessa na
vontade e impede-nos daquilo a que nos propusemos. Como… ser feliz. Este será o
objectivo intrínseco à raça humana sem que seja necessário que alguém, à
nascença, nos industrie sobre isso. É natural. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O problema é que, ao mesmo tempo que o corpo cresce, parece
que a mente atrofia e vai deixando abandonar o objectivo da vida. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O bom e o mau na nossa cabeça é relativizado por uma balança
virtual e moldado por nós mas, também, é certo, por factores sobre os quais não
temos poder.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“[…] não deveríamos
precisar de dias maus para dar valor aos bons, essa alegria deveria existir
sempre, não apenas nos momentos de alívio. Mas estamos condenados por esta
obsessão em relativizar tudo. Aqui e agora nunca são suficientes, Estamos numa
luta contínua, impossível de resolver, porque não aceitamos menos, porque
queremos sempre mais”</i> (pág. 253-4).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O título e a capa deste novo romance de David Machado, podem
induzir em erro. <i>Índice médio de
felicidade</i> não é um livro espiritual ou de auto-ajuda. Depois de <i>Deixem falar as pedras</i>, a sua obra
anterior, o autor volta a surpreender. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sejam, como eu fui, felizes nesta leitura.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Sines, 24 de Setembro de 2013
<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Joaquim Gonçalves</span></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-80545409871223990452013-09-25T07:45:00.002-07:002013-09-25T07:45:59.224-07:00A desumanização<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWyUYdZrBVuE7cZOc4i1hNEg0RycVE3qrKm1p3LtFhLG4E4BiAyPaSYM5Ims0-bYYjfuMqkMa13DyYJgIZBP_EC8rEtJqTFutKkfcqdTEdbxkOYe4w_xa0lbnL4QY8y10DAGBD7612dV4/s1600/a+desumaniza%C3%A7%C3%A3o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWyUYdZrBVuE7cZOc4i1hNEg0RycVE3qrKm1p3LtFhLG4E4BiAyPaSYM5Ims0-bYYjfuMqkMa13DyYJgIZBP_EC8rEtJqTFutKkfcqdTEdbxkOYe4w_xa0lbnL4QY8y10DAGBD7612dV4/s320/a+desumaniza%C3%A7%C3%A3o.jpg" width="208" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>A desumanização<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Valter Hugo Mãe</i>,
Porto, Setembro 2013</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É a olhar para o mar que tento encarreirar algumas palavras
sobre este livro.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
No alto da falésia, a ouvir o marulhar da maré-baixa, lá ao
fundo, ondas pequenas contra as rochas a descoberto, à minha altura gaivotas a
planarem indiferentes.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É assim que tento sair de dentro da cabeça de Valter Hugo
Mãe que, no resultado das suas deambulações geográficas e psicológicas, nos
impôs <i>A Desumanização</i>, título que deu
ao seu mais recente livro. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E digo livro deliberadamente. Não, romance.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Acabado de ler a olhar para as lonjuras do mar, em manhã de
fim de Setembro quente, não consigo deixar a fria sensação que a fria Islândia
deixa cravada na pele.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Valter Hugo Mãe esteve lá mas não apenas de corpo.
Sentimo-lo nas cerca de 230 páginas, uma a uma.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A história poderia passar-se noutro local? Poderia. A
história, que dá corpo ao livro, poderia. O livro, entendido como a soma de
todos os conteúdos, não.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A história, aliás, é o que menos importa nesta leitura, com
tanto de bom que encontramos a envolvê-la, a dar-lhe corpo, e alma, e sentido.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ironicamente, com o título <i>A Desumanização</i>, a leitura só nos pode relembrar, sempre e sempre a
nossa pequenez humana perante uma natureza incomensurável.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O Autor transporta-nos para o arquipélago gelado e
mostra-nos a luz que lá colheu e guardou nos próprios olhos até a derramar no
papel para no-la oferecer. Mas também colheu modos de vida e de relações.
Relações entre as pessoas e entre estas e os animais ou a Natureza.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Poético e duro, Valter não se inibe na escrita e, com a
poesia a fazer-se prosa, saindo-lhe pelas pontas dos dedos de uma mão, soca-nos
no estômago frágil, a abarrotar de “comida” civilizacional, com o punho bem
fechado da outra, ordens directas do cérebro que guardou sensações para as
devolver, transformadas em livro.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Livro ladrão.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Como diz a menina da história humana que tem por título <i>A Desumanização</i>: </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Senti-me muito feia
por andar atrás da beleza. Era tão diferente de fugir. O meu pai
desentristeceu-me. Prometeu que leríamos um livro. Os livros eram ladrões.
Roubavam-nos do que nos acontecia. Mas também eram generosos. Ofereciam-nos o
que não nos acontecia.”</i> (p.59).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Obrigado, Valter, por nos colocares nas mãos este ladrão.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">Sines, 20 de Setembro de 2013</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: x-small;">Joaquim Gonçalves</span><o:p></o:p></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-59368466408549454432013-09-25T07:44:00.002-07:002013-09-25T07:44:25.313-07:00Ana de Londres<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCkkdW0eJ0KgTOd4Ffzj3P6LA5PCTPYU9X2RUnok1NhjxgjvXDGz7w9Iqfv2GjtW5IvNZqoHjHnRBgp4yTMd9zJXxEyfgRxd3iGFfbouFwcXp8lZvQoqLS2o0IpEQcmQj1jz0Xtyd94sw/s1600/Ana+de+Londres.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCkkdW0eJ0KgTOd4Ffzj3P6LA5PCTPYU9X2RUnok1NhjxgjvXDGz7w9Iqfv2GjtW5IvNZqoHjHnRBgp4yTMd9zJXxEyfgRxd3iGFfbouFwcXp8lZvQoqLS2o0IpEQcmQj1jz0Xtyd94sw/s320/Ana+de+Londres.jpg" width="208" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Ana de Londres<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Cristina Carvalho</i>,
Parsifal, Setembro de 2013 </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Cristina Carvalho não pára de nos surpreender. Versátil,
ainda não me deparei com passagens pelo teatro ou poesia. Já o infanto-juvenil,
o conto e o romance são territórios seus que tive o privilégio de desbravar.
Até, mesmo, o registo biográfico que fez do seu pai, Rómulo de Carvalho/António
Gedeão.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De anteriores obras falei atempadamente. Não dos seus
primeiros livros a que ainda não tive tempo de chegar. Mas, garanto, que me
ficaram na memória o <i>Gato de Uppsala</i>
e <i>A Casa das Auroras</i>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Foi precisamente do seu primeiro livro – <i>Até já não é Adeus</i> – que foi repescado o
conto <i>Ana de Londres</i>, já publicado
autonomamente em 1996 mas, agora, revisto e acrescentado.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De Yvette Centeno a David Mourão-Ferreira, vários foram os
autores que disseram muito elogiosas críticas ao livro. Pela parte que me toca,
conhecida que era, como referi, parte da obra da autora, fui apreciando a prosa
até que, na pág. 58 deparo com o fim de frase: “[…] sair de casa, Taunus 12m
[…]” e os sentidos ficaram ainda mais despertos. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Porque este foi o meu primeiro carro e, com ele, provei as
primeiras lufadas de liberdade individual. O mesmo não terá significado para
Ana o carro do pai. Mas o meu registo ficou e, a partir daqui, fui assimilando
as memórias e verificando as transformações que, pela mão de Ana de Londres,
guiada pela pena da autora, se nos deparam até ao desfecho final, pouco depois
da centésima página.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Cristina Carvalho não escreve gratuitamente. Na sua prosa
vivemos a vida quotidiana, o drama familiar, também o individual, tudo
embrulhado numa seda efabulatória surpreendente.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ana de Londres </i>recoloca-nos,
com algum dramatismo, num ponto de viragem da nossa história recente: os anos
60, a fuga à Guerra Colonial, a necessidade de libertação provada por uma
juventude filha de pais conformados, o choque com novas culturas e hábitos e as
consequências daí advindas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Os anos tinham rodado
vertiginosamente em círculos e círculos perigosos, como num poço da morte, eu
não fazia a mínima ideia de como estaria, e não fazias a mínima ideia de como
eu estaria.” </i>(pág. 100).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A obra completa-se com um elucidativo prefácio de Miguel
Real e belíssima ilustrações de Manuel San-Payo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Corroboro as palavras de Yvette Centeno: “Nesta <i>Ana de Londres</i> é de nós todos que se
fala”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Sines, 24 de Setembro de 2013<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Joaquim Gonçalves</span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-27943945348540250642013-06-29T07:59:00.002-07:002013-06-29T07:59:28.311-07:00Um quarto desconhecido<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPyErfTfY4trcwckfUKwJNxgFNrSXucwkygXfSNn94rA9s8-wz0hw6-V-U5Du_PCXI-GKu_fXD2-oxojXSE7r1RgG9eDNHQjp9StpE5fDfcea6QlDopzGHuYoPgqwYqTd62Cj5NEkagRw/s672/Um+quarto+desconhecido.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPyErfTfY4trcwckfUKwJNxgFNrSXucwkygXfSNn94rA9s8-wz0hw6-V-U5Du_PCXI-GKu_fXD2-oxojXSE7r1RgG9eDNHQjp9StpE5fDfcea6QlDopzGHuYoPgqwYqTd62Cj5NEkagRw/s320/Um+quarto+desconhecido.jpg" width="190" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Um quarto desconhecido<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Dalmon Galgut</i>,
Alfaguara, Maio 2011</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Talvez por deformação (ou formação!) profissional, por
vezes, quando estou a ler um livro, já me estou a lembrar de amigos ou clientes
a quem o recomendar. Às vezes, porque lhes conheço alguns gostos, outras,
porque, dado o prazer que me está a dar a leitura, gostaria de partilhar.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quando estava no início da leitura, disse-me um conhecido (e
conceituado, diga-se!) escritor e crítico literário que este era um livro bom,
mas estranho.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Continuei, paulatinamente, a minha ledura e fui confirmando
as duas coisas. Uma, mais do que outra. Chegado ao fim, é um excelente livro,
na verdade.; um pouco estranho, sim, mas não tanto como me foi apregoado.
Estranho, talvez, pela fuga aos cânones a que estamos habituados.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não sendo propriamente um romance, não sendo na sua
essência, um livro de viagens, esta obra de Dalmon Galgut alia as duas coisas,
cruzando três viagens mas, acima de tudo, levando-nos às profundezas do ser
humano, aos segredos que a ninguém se contam.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É interessante a forma como, sucessivamente, o narrador o é
como relator dos acontecimentos, para, logo de seguida, se assumir como
protagonista.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
São notáveis as descrições do elemento natural,
especialmente a paisagem da África do Sul, a dificuldade humana perante a
adversidade e, sobretudo, os estados anímicos de quem o autor coloca a viajar
connosco.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Encontros e desencontros, com o amor, com o mais profundo do
ser, tudo começa com um encontro fortuito mas expectável:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Enquanto a estrada
sobe e desce, há momentos em que consegue ver ao longe e outros em que não
consegue ver de todo. Não pára de procurar outras pessoas, embora a imensa
paisagem pareça completamente deserta.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
[…]<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<i>A dada altura,
todavia, ao chegar ao cume de um monte, toma consciência de uma outra figura
longínqua. Pode ser homem ou mulher, pode ter uma idade qualquer, pode estar a
viajar nesta ou naquela direcção, para si ou para longe de si. Vai observando
até que a estrada mergulha para lá do seu campo de visão, e ao chegar ao cimo
da elevação seguinte a figura torna-se mais nítida, vindo na sua direcção.
Observam-se agora um ao outro, embora finjam não o fazer”</i> (p.11).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O amor pode ser muita coisa. Até uma viagem… ou várias!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">Sines, 29 de Junho de 2013 <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: x-small;">Joaquim Gonçalves<o:p></o:p></span></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-41178090297361561352013-06-29T05:12:00.004-07:002013-06-29T05:12:57.067-07:00A vida inútil de José Homem<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgy0KdyyxGvUqweynySk7GMkARrs4zGgJnI76cALqC9MfI8TBnXC_SPBRagKGui1-XATIKbcjgCGxR2G9NEwZktIB01Bvg5PfMIqZneohOYgW0fbzuZdiRKnUZnqAcOOR_UXSyGjyiynfc/s574/A+vida+in%C3%BAtil+de+Jos%C3%A9+Homem.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgy0KdyyxGvUqweynySk7GMkARrs4zGgJnI76cALqC9MfI8TBnXC_SPBRagKGui1-XATIKbcjgCGxR2G9NEwZktIB01Bvg5PfMIqZneohOYgW0fbzuZdiRKnUZnqAcOOR_UXSyGjyiynfc/s320/A+vida+in%C3%BAtil+de+Jos%C3%A9+Homem.jpg" width="222" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>A vida inútil de José Homem</b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Marlene Ferraz</i>,
Gradiva, Março 2013 </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Acabei de ler o livro e não o quis largar. Fiquei para ali,
a olhar para ele, voltei à ficha técnica, revi a capa, reli o texto da
contra-capa, voltei à badana de capa e tornei a ler a biografia da autora e
fixei-me na fotografia – bonita.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há livros assim. Lidos que estão, souberam-nos a pouco. Ou
talvez não. Se a história continuasse talvez não ficasse o mesmo sabor.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>A vida inútil de José
Homem</i> é um livro premiado. Recebeu o Prémio Literário Revelação Agustina
Bessa-Luís 2012, cujo nome acarreta, só por si, alguma responsabilidade.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Malditos pretos” (p.
11).</i> É assim o terrível início deste romance que me surpreendeu pela
construção dos personagens: O velho José a correr com a canalha que lhe rouba
diospiros que ele não aproveita e a sua evolução como pessoa em fim de vida;
Antonino, o rapaz que se ajeitou “<i>no
prolongamento falso do seu corpo […] Percebia-se naturalmente que seria um
engenho pouco ajustado à sua altura ainda baixa, uma perna de homem num rapaz
de curta idade. Depois do alinhavo dos calções numa fazenda escura, podia
ver-se o amarelo ordinário no plástico desbotado da peça artificial. A
verdadeira perna era claramente mais estreita, uma linha de vida que carregava
a outra sem qualquer lamento” </i>(p.12).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois, há Delfim, o padre que acolhe os rapazolas fugidos
da guerra de um país que não esquecem, apesar dos ares europeus.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mais tarde aparecerá o cão que, naturalmente Antonino
baptiza de Luanda…</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E outros personagens, não muitos, nos vão surgindo, como o
velho faroleiro, figura enigmática, entre o sonho e a realidade.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Apesar de romance, é de uma triste realidade que tratam as
cerca de 170 páginas que me prenderam desde o início.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas nem só de tristezas se faz um bom livro. Marlene Ferraz
soube cunhar com algum humor muitas das passagens que me apanharam com um
sorriso feliz.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Carinho, é a palavra que me sobra, acabada a leitura de <i>A vida inútil de José Homem</i>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: x-small;">Sines, 29 de Junho de 2013 <o:p></o:p></span></i></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: x-small;">Joaquim Gonçalves<o:p></o:p></span></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-73904339564130084652013-05-31T10:04:00.001-07:002013-05-31T10:05:30.281-07:00Que importa a fúria do mar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxP9pTYC6ap_IPdy1USxDE2WTW5K-SzYBKBoUS5sotLXHOvr321KorT6rHRgvOqxfYx1_ZYoJ03iUcDURVUzdLxfv5OGle9BLvk4pXKR3mPtKyqA8hJwN5UpN5doMsv3yrc8Wm2ABZuGw/s1600/Que+importa+a+f%C3%BAria+do+mar.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxP9pTYC6ap_IPdy1USxDE2WTW5K-SzYBKBoUS5sotLXHOvr321KorT6rHRgvOqxfYx1_ZYoJ03iUcDURVUzdLxfv5OGle9BLvk4pXKR3mPtKyqA8hJwN5UpN5doMsv3yrc8Wm2ABZuGw/s1600/Que+importa+a+f%C3%BAria+do+mar.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Que importa a fúria do mar</b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ana Margarida de
Carvalho</i>, Teorema, Maio de 2013 </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Inquietantemente surpreendente ou surpreendentemente
inquietante, poderão ser duas formas de, de uma forma muito, mas muito
sintética, classificar o primeiro romance de Ana Margarida de Carvalho.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Com um início que não desmerece de Alves Redol ou Soeiro
Pereira Gomes, mesmo Manuel da Fonseca, cedo a Autora nos traz para o mundo
actual dominado pelas pressas das agendas dos meios mediáticos e pela pobreza
do entretenimento televisivo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Em “Que importa a fúria do mar” cruzam-se as histórias de
Eduarda, jornalista, no dilema entre a vontade da grande reportagem e a
obrigação da rotina da redacção, e Joaquim, um dos revoltosos que, nos anos 30,
afrontaram o regime da Marinha Grande ao fundarem uma comuna na vila vidreira,
sendo, depois, presos e deportados para Cabo Verde onde inauguraram a
cadeia-inferno do Tarrafal.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tendo como base romanesca a paixão de Joaquim por Luísa, que
ficou na terra e a quem ele escreveu cartas que, só por um acaso, lhe poderiam
chegar às mãos, o livro passeia-se ainda pela dicotomia entre a juventude e a
velhice. Eduarda, para conseguir algum relato de Joaquim quase tem de se mudar
para sua casa, com gato e tudo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A estória, porém, inicia-se com um personagem que,
assumidamente, só aparece no primeiro capítulo. Ou talvez não… Filho dos tempos
e da terra, monologa de uma forma duramente romântica:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Ando aqui a ganhar a
morte. A vergar-me a cada passo, nesta rabugem vegetal, com involuções de
ouriço-caixeiro, Se me tocam, eu abro pico em todas as frente. Que eu nunca
pedi nada. Nunca enclavinhei a mão para dar um murro na mesa. Nem me caberia
esmurrar a mais dilecta peça de mobiliário da casa. Onde os manjares eram
pousados de mansinho e arrebatados em silêncio, aspirares de esganação e
respeito – e, no final, as migalhas ajuntadas e receosamente pinçadas entre o
indicador e o polegar”</i> (pp. 11-12).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sem romantismo são os relatos no campo do Tarrafal onde a
dor, a angústia, são combatidos com a esperteza, o alheamento, a amizade, até.
Mas, até aí, há traições. A solidariedade da população não é esquecida.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Aquelas barracas eram
a única coisa que tinham, ali dormiam, comiam, jogavam cartas, liam e os
moribundos morriam, ainda que a condensação da respiração dos homens fizesse
formar gotas de humidade no tecto que às vezes se despregavam em cima das
cabeças. Gordas, glutinosas, lesmas em estado líquido. Mas estes remadores de
galés, agrilhoados e ferroados pelo chicote, não podiam deixar ir as velas com
o vento. Eram homens, ainda não ratos”</i> (p. 173).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mais um livro que faz jus à literatura. Para que a memória
nos ensine a construir um mundo melhor.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Sines, 30 de Maio de 2013 <o:p></o:p></span></div>
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Joaquim Gonçalves</span></i>a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-61082963496930226442013-05-27T04:11:00.002-07:002013-05-27T04:11:16.484-07:00Como uma flor de plástico na montra de um talho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWHr6iWtPJTdM9bBPod7GcGDFHe7zGgGvYYCIkspIUMkec2Yb3iznN67W9Ovl8FjR0ArghG37-NfvPpNovqy1DHryUp98Qo9_g6qzmLOJzaq1tXdpy5XjqlRJdnvft_6TiGD3hDSXcwVM/s1600/Como+uma+flor+de+pl%C3%A1stico.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWHr6iWtPJTdM9bBPod7GcGDFHe7zGgGvYYCIkspIUMkec2Yb3iznN67W9Ovl8FjR0ArghG37-NfvPpNovqy1DHryUp98Qo9_g6qzmLOJzaq1tXdpy5XjqlRJdnvft_6TiGD3hDSXcwVM/s320/Como+uma+flor+de+pl%C3%A1stico.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Como uma flor de plástico</b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>na montra de um talho<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Golgona Anghel</i>,
Assírio & Alvim, Maio 2013 </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De vez em quando, quando passo pela zona da poesia, na
livraria, pego num livro ao acaso, ao acaso o abro e leio um poema. Outras
vezes, escolho mesmo um autor e faço o mesmo, sempre ao acaso.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Como grande parte de nós, na juventude, também eu pensava
que escrevia poesia. Com o tempo, com as leituras, fui-me apercebendo que a
poesia não era bem aquilo que escrevia. Era outra coisa. E fui andando atrás
dessa outra coisa. Sempre atrás. Passei a escrever de outro modo. Talvez mais o
meu modo. Mas não desisti.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há algum tempo, o crítico, muito crítico, diga-se, António
Guerreiro, visitou a livraria e falámos de autores e editoras, entre outras
coisas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quase em simultâneo, saiu no jornal Público uma peça sobre
novos poetas e novas editoras. Entre os novos, porque estamos em Sines, falámos
de Golgona Anghel, já que, para além de ter escrito uma biografia do poeta
sineense Al Berto, editou os seus diários.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nunca tinha lido nada desta romena radicada em Lisboa.
Surgindo, agora, um no livro seu, com estranho título “Como uma flor de
plástico na montra de um talho”, editado pela Assírio & Alvim, não resisti
à curiosidade.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Como é meu hábito, fui marcando os poemas de que mais
gostava. Mas desisti quando comecei a verificar que estava a marcar todos os
poemas do livro de pouco mais de sessenta páginas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Em tempo de crise, de revolução moderna, em redes sociais, e
porque a poesia tem, sempre, múltiplas leituras, aqui fica um brinde de Golgona
Anghel, deste seu novo livro (p. 19):</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“COMODISTA HESITANTE,</div>
<div class="MsoNormal">
protegido das cabeleireiras</div>
<div class="MsoNormal">
e cliente frequente dos feriados nacionais,</div>
<div class="MsoNormal">
acredita nos encontros fortuitos</div>
<div class="MsoNormal">
assim como um relógio estragado</div>
<div class="MsoNormal">
acredita aproximar-se de uma hora astral.</div>
<div class="MsoNormal">
Estes hábitos podem até ser tolerados</div>
<div class="MsoNormal">
Em contos naturalistas</div>
<div class="MsoNormal">
E <i>reality showers</i>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nós, aqui, <i>little
stranger</i>,</div>
<div class="MsoNormal">
Degolamos pardais e fadas de porcelana.</div>
<div class="MsoNormal">
Cobramos interesses à alegria</div>
<div class="MsoNormal">
E vendemos suites com piscina na lua.</div>
<div class="MsoNormal">
A batalha é nossa,</div>
<div class="MsoNormal">
Já alugámos as trincheiras,</div>
<div class="MsoNormal">
Mas custa tanto tirar os pijamas.”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Independentemente do título referir a montra de um talho,
penso que este livro faz jus ao princípio, também poético, de que a poesia é
para comer.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há mais exemplares na livraria mas este que aqui tenho, na
mão, não o vendo a ninguém. Este é para mim.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">Sines, 27 de Maio de 2013 </span></div>
<i><span style="font-size: x-small;">Joaquim Gonçalves</span></i>a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-10684619341114553342013-05-25T05:05:00.001-07:002013-05-25T05:05:14.978-07:00Madrugada Suja<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNeMRE4QaEk5dlwMa9Wx9QPBBddasFNWroEjuQmn87pI5mEoepPNsu7umPueza0GjctaDTGtCbcVo57tsxiBNqWJa8SD-rGl1pWBtkcWbDtb8uZTNrCrfRWtqc_Dbv3xjLirJx1CKgXfQ/s1600/Madrugada+suja.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNeMRE4QaEk5dlwMa9Wx9QPBBddasFNWroEjuQmn87pI5mEoepPNsu7umPueza0GjctaDTGtCbcVo57tsxiBNqWJa8SD-rGl1pWBtkcWbDtb8uZTNrCrfRWtqc_Dbv3xjLirJx1CKgXfQ/s320/Madrugada+suja.jpg" width="211" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Madrugada suja<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Miguel Sousa Tavares</i>,
Clube do Autor, Maio 2013</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há autores com seguidores. Independentemente da sua
qualidade literária, o certo é que agradam a algumas pessoas que, quase sempre
anualmente, esperam pelo seu novo livro. E, quando passados cerca de 365 dias
isso não acontece, perguntam ao livreiro: - Então, ainda não saiu nada de
fulano?</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É o caso de Miguel Sousa Tavares que, depois de <i>Equador</i> e <i>Rio das Flores</i>, publicados com um intervalo regular, nada publicou
em vários anos senão <i>Anos Perdidos</i>,
pequeno e despercebido para quem estava já habituado a grandes volumes.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
No meio-termo, surge, agora, Madrugada Suja. Um romance que,
começando com um crime e acabando com uma Procuradora do Ministério Público,
não é um policial.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sousa Tavares decanta, agora em romance, alguns ódios de
estimação ou, de forma mais leve, alguns dos seus cavalos de batalha enquanto
jornalista: O poder autárquico, o <i>pato-bravismo</i>,
a ascensão meteórica na política, por exemplo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Apesar de, a dada altura nos remeter para o PREC e para o
Verão quente de 1975, este é um romance absolutamente actual, que percorre os
últimos trinta anos da história portuguesa, como se constata na página 232: <i>“Um Portugal de aldeias mortas, de
comerciantes falidos, de agricultores sentados à berma das estradas construídas
com os dinheiros da Europa, vendo passar os grandes camiões TIR que traziam de
Espanha e dessa Europa as frutas e os legumes criados em estufas maiores do que
quaisquer hortas deles, em direcção aos centros comerciais onde, em breve, eles
próprios aprenderiam o novo e insípido sabor dos melões e das cebolas, dos
reinventados “frangos do campo”, ou dos porcos sem gordura nem pecado,
embalados em vácuo. E onde se resignavam a passear aos domingos, com filhos e
noras e netos, tentando não se perder no meio dessa turba deslizante, entre
montras e restaurantes e néons, num dédalo baptizado com nomes de avenidas e
ruas, nomes de países ou heróis da Pátria, como se assim os velhos cuja aldeia
era agora um centro comercial dos subúrbios não dessem pela diferença ou até,
dando por ela, a apreciassem. Ou tudo se tivesse tornado tão longínquo que já
não fazia diferença”</i>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sendo, de forma romanesca, uma síntese da corrupção em
Portugal, o livro não deixa de ter os seus momentos de amor e sexo,
penitenciando-se, de certa forma, dos excessos, à página 336, o personagem
principal: “Nós, homens, somos animais: animais sempre com cio, por vezes,
raramente, acompanhado de alguns sentimentos. Entre nós e a nossa natureza,
entre nós e a desgraça, estão apenas as circunstâncias. Nada mais nos trava,
nada mais pode evitar a desgraça: só as circunstâncias e a sorte”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Madrugada suja</i> é
um livro envolvente. Tem romance, tem história, tem crítica social e política.
Tem, de forma romanceada, uma demonstração de como é feita a corrupção no nosso
país. É um livro e, como é referido na página 238, <i>“Alguém dissera um dia que se podia viver sem tudo, menos água e
comida, mas que viver sem livros e sem música não seria o mesmo que viver</i>”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Proponho, então, a leitura do mais recente romance de Miguel
Sousa Tavares, <i>Madrugada suja</i>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">Sines, 25 de Maio de 2012 </span></div>
<i><span style="font-size: x-small;">Joaquim Gonçalves</span></i>a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-74648360756136430972013-04-17T06:55:00.002-07:002013-04-17T06:56:44.893-07:00Enquanto Lisboa arde, o Rio de Janeiro pega fogo<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwHguBTkmAso3pLQaTQX1qe-bbBdiqQHErIkHcTX5kHGblbPwzyHFWREvdLQvznuJujTOUClTDEYOWNxkV9CMYPNRiJ2AvsFR7h5rrKZ58FRgV2z5-IkaEWJrf7SBcZ2mZ4CvkFLM5kDE/s1600/Enquanto+Lisboa+arde.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwHguBTkmAso3pLQaTQX1qe-bbBdiqQHErIkHcTX5kHGblbPwzyHFWREvdLQvznuJujTOUClTDEYOWNxkV9CMYPNRiJ2AvsFR7h5rrKZ58FRgV2z5-IkaEWJrf7SBcZ2mZ4CvkFLM5kDE/s320/Enquanto+Lisboa+arde.jpg" width="212" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Enquanto Lisboa arde, o Rio de Janeiro pega fogo<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Hugo Gonçalves</i>,
Casa das Letras, Abril 2013 </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Acabada a leitura do livro, entendi a frase de João Tordo em
badana da capa: “Agarra-nos pelo colarinho e não nos larga até estarmos feitos
num oito. Imperdível”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O autor, Hugo Gonçalves, é um português a viver no Rio de
Janeiro. Como cada vez mais jovens fugidos de tudo ou à procura de qualquer
coisa. Acima de tudo, da sobrevivência.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Começa a história com o narrador no “Cais de partida” a
despedir-se da sua doce e amarga Lisboa. Acaba com o retorno aos sons e cheiros
da capital portuguesa.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pelo meio, sucedem-se os encontros, atribulações,
deslumbramento, paixões, de quem cai num paraíso envenenado – o Rio de Janeiro
dos expatriados, das favelas e do calçadão. O Rio da banalidade das drogas: <i>“A erva adoça mas desacelera, a maconha
estiliza mas estupidifica”</i> (p. 116).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
São vários os personagens e as personalidades que não
precisam de grandes descrições para as visualizarmos<i>: “No hotel, um rececionista sem dentes conversava com uma prostituta
sem maquilhagem”</i> (p. 127).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Uma breve espécie de exame de consciência coloca os pontos
nos is no que toca a culpa ou culpados da situação que leva à fuga:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“E agora estás longe
do país onde cresceste, do continente civilizado que providenciou a tua
formação, as tuas auto-estradas, os juros que te permitiram comprar toda aquela
tralha que deixaste para trás num piscar de olhos”</i> (p. 117).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas, agora, <i>“Lisboa
podia ruir, incendiada por credores e revoltosos, e o Rio de Janeiro flamejava
fogos de orgia de fim de mundo”</i> (p. 224). E, daqui, sai o título deste
terceiro romance de Hugo Gonçalves.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Encontramos um Rio porto de abrigo, desde sempre, de todas
as proveniências. Para além dos emigrantes portugueses, ali se encontram ainda
– e do romance fazem parte – sobreviventes do Holocausto ou terroristas bascos.
E, também, gentes do antigo regime português, sendo um PIDE uma das colunas
dorsais deste romance quase policial.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quando necessário, Hugo Gonçalves faz referências históricas
ao imediatamente antes e pós 25 de Abril, quando o Brasil foi porto de abrigo
de fugitivos da Revolução: <i>“Os que
ficaram em Portugal aproveitavam as novidades da democracia e mudavam de
hábitos, até de aspeto. Os homens tinham cabelos compridos, barbas e patilhas,
vestiam calças largas, as mulheres usavam botas até ao joelho e fumavam mais”</i>
(p. 129).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas é de uma Lisboa desencantada que sempre se fugiu, como
Rachel fez, em tempos, nesta história em que somos confrontados com muitas
coisas que se repetem apesar da mudança dos tempos:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“[…] a cidade capital
do império – um império enorme, disperso por todo o globo, uma pletora de
pessoas, cores de pele, tipos de cabelo e de comida, mas um império
microcéfalo, cavalgado por déspotas e padres e poucas famílias, que mantinham
uma mão na boca dos que queriam falar e outra na garganta dos que queriam
fazer”</i> (p. 165).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O narrador mostra-se profundamente conhecedor da geografia
física e social do Rio de Janeiro e, a pé ou de bicicleta, de que ele tanto
gosta, guia-nos pelas ruas, avenidas, pelos botecos, pelas favelas: <i>“os semáforos são inimigos da tua
velocidade, queres ir depressa e sem tocar nos travões, um videojogo que começa
assim que sais de casa, traçando trajectórias, tentando antever para que lado
vira um carro, se um pedestre se atira para a estrada ou um skater fará uma
elipse que dê tempo para que passes, sem perigo, entre o homem que carrega
cocos e o meio fio”</i> (pp. 115-116).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É o Rio moderno que encontramos, apesar da capa nos induzir
ao contrário: <i>“Talvez o Rio também se
torne uma dessas cidades onde não se lêem livros mas se sabe de cor 85 tipos de
sashimi”</i> (p. 122).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E, se a modernidade tem destas coisas, termino com a visão
realista do narrador. No Rio ou em Lisboa, uma imagem que serve para qualquer
parte do mundo:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Olhava as fachadas
dos shoppings, na janela do ônibus, e pensava que eram apenas isso, fachadas,
atrás não havia nada. Uma cidade faz de conta […]”</i> (p. 186).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Sines, 17 de Abril de 2013 <o:p></o:p></span></div>
<i><span style="font-size: 10pt;">Joaquim Gonçalves</span></i>a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-67765179706901562712013-04-11T08:51:00.005-07:002013-04-11T08:51:49.245-07:00Debaixo de algum céu<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJ02Hk_GSDgR3GAHRuSNgMKTJ6qXmHTyPI0hGh61TDcWxRnO2Nr7XP9_KVX8jVME9zxRjjM9mHyQPi_mBznwLBslTSVx1qkayPbwxZ0KYxNEfFEN4Tw7GvUYTLjlH9coot040TtqdnMgk/s1600/Debaixo+de+algum+c%C3%A9u.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJ02Hk_GSDgR3GAHRuSNgMKTJ6qXmHTyPI0hGh61TDcWxRnO2Nr7XP9_KVX8jVME9zxRjjM9mHyQPi_mBznwLBslTSVx1qkayPbwxZ0KYxNEfFEN4Tw7GvUYTLjlH9coot040TtqdnMgk/s320/Debaixo+de+algum+c%C3%A9u.jpg" width="211" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Debaixo de algum céu<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Nuno Camarneiro</i>,
Leya, 2013 </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Só as paredes nos
deixam ser ainda o que às vezes queremos</i>” (p.43).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E é disso que, em grande parte trata o livro vencedor do
Prémio Leya 2013. Os habitantes de um prédio, junto à praia, numa pequena localidade,
falam na primeira pessoa, para elas próprias. E o que dizemos quando falamos
com os nossos botões? O mais verdadeiro do que nos vai na alma.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pelo meio, a voz do narrador, faz-nos a ligação entre os personagens.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
No curto espaço de uma semana, entre o dia de Natal e o dia
de Ano Novo, são vidas inteiras que desfilam: a perdição de um padre, a
conversão de um bruxo, o suicídio de uma viúva, a paixão de dois velhos, a
perda de virgindade de uma jovem e tudo o mais que menos de duzentas páginas
nos contam. Mas nada é tão linear como acabei de referir. Por isso existe a
prosa romanesca que nos prepara para o desfecho, neste caso, para os vários
desfechos, alguns inesperados.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nuno Camarneiro, de quem já tínhamos lido o belíssimo <i>No meu peito não cabem pássaros</i>,
delicia-nos, novamente, com uma narrativa que, embora poética, não descura as
agruras. A poesia é mel e é fel.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A composição dos personagens e, também, dos cenários,
poderia ser remetido para o campo das artes visuais, mesmo que numa pintura do
pequeno Frederico:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“O céu apaga-se em
vermelho e as nuvens brilham de um sol sem fim. As aves voam rente à água e
procuram lugares de sombra onde possam poisar e encostar os bicos ao peito para
dormir.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Frederico vê isso tudo
da janela e rabisca numa folha ideias de desenho. Um pirata que é ele, de
espada na mão e um barco cheio de velas e mar às ondas. Vai ser assim o desenho
de Frederico. Tem os lápis escolhidos, azul, vermelho, amarelo para o sol. Olha
para fora porque quer desenhar as ondas como são, algumas tubinhos brancos
enrolados à volta de nada, outras paredes de azuis, outras só desordem de não
entender nada”</i> (p. 162).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Poderia ter aqui reproduzido inúmeros outros excertos do
livro, mais interessantes, até, para a história. A profusão de solicitações é
tanta que escolhi quase ao acaso.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Debaixo de algum céu é um retrato dos funâmbulos que somos
na corda da vida. Trabalho invejável.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não resisto a uma última citação:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“É engraçado o Sol,
indo e vindo como um tio que faz negócios. Às vezes uma visita, outros dias
ocupado noutros lugares com outra gente. Aprende-se a recebê-lo com alegria
porque veste o tempo e traz cores à casa, É o tio, lembras-te do tio? O Sol é
doido e é assim, como um tio de quem se gosta”</i> (p. 73).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Sines, 11 de Abril de 20123 <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Joaquim Gonçalves<o:p></o:p></span></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-75344475270960031382013-04-02T09:32:00.002-07:002013-04-02T09:32:16.740-07:00Homer & Langley<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5WJtISGIFt8QiPTOCyWXApXzGg7VshsZSMOCCge_sinHRw5EmertykId9C6ae5Vamm_kEBzKpfWDHnqnLLphBHOAh-W5Dp-qFZmajiP2z7F-fH8CC8FWWih6RVm0wUE7V3sBEs25fy-Y/s1600/Homer+e+Langley.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5WJtISGIFt8QiPTOCyWXApXzGg7VshsZSMOCCge_sinHRw5EmertykId9C6ae5Vamm_kEBzKpfWDHnqnLLphBHOAh-W5Dp-qFZmajiP2z7F-fH8CC8FWWih6RVm0wUE7V3sBEs25fy-Y/s320/Homer+e+Langley.jpg" width="207" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Homer & Langley<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>E. R. Doctorow</i>,
Porto, 2013 </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Eu sou o Homer, o
irmão cego. Não perdi a vista de repente, foi como nos filmes, um lento
</i>fade-out<i>. Quando me contaram o que estava a acontecer, tive curiosidade em
avaliar o fenómeno; estava no fim da adolescência, tudo me interessava. O que
fiz, nesse Inverno em particular, foi postar-me a uma certa distância do lago
de Central Park, onde as pessoas costumam patinar no gelo, e descobrir o que
deixava de ver de dia para dia”</i> (pág. 7).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Assim se inicia o fabuloso romance de Edgar Lawrence
Doctorow, 82 anos, mas praticamente desconhecido em Portugal.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Homer e Langley são dois irmãos, o que sobra de uma família
abastada da Quinta Avenida, em Nova Iorque.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Em menos de duzentas páginas, o autor norte-americano, colocando
Homer como narrador, romanceia a história dos dois irmãos que, em 21 de Março
de 1947, foram encontrados soterrados debaixo de toneladas de lixo acumulado na
mansão onde viviam.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Homer toca piano e sonha com romances. Langley inventa uma
teoria de substituição e compra todos os jornais que encontra para os estudar e
catalogar, de forma a fazer, ele próprio, num futuro que nunca chegará, um
jornal de edição única que dê para ser lido com actualidade em qualquer época.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Durante a narrativa, com inúmeros aspectos tragicómicos,
acabamos por ser guiados através de uma parte da história da América e do mundo
na primeira metade do século vinte, com breves referências à Primeira Guerra
Mundial, em que Langley participou, as Guerra Fria, as Guerras da Coreia e do
Vietname, o surgimento do movimento hippie, a evolução da música e dos
instrumentos musicais, os gangsters, a Grande Depressão, a Lei Seca, os
assassinatos de Luther King e dos irmãos Kenedy, até mesmo a evolução da música
e dos instrumentos musicais.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sem nunca se abandonarem um ao outro, os irmãos, depois de
verem, deliberadamente, a sua casa como um salão de festas ou poiso de hippies,
vão-se fechando ao mundo até ao ponto de serem notícia que atravessa
fronteiras.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Doctorow pegou num acontecimento real, que se tornou um mito
urbano, e deu-nos um daqueles romances que nos perseguem enquanto há páginas
para ler. Venha o próximo!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Sines, 2 de Abril de 2013 <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Joaquim Gonçalves</span></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-24709078879147944202013-03-14T04:14:00.001-07:002013-03-14T05:48:56.781-07:00Os demónios de Álvaro Cobra<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid4VZDiCCKVbcZ4BH0xgTyc1HOh7jq-Od9Vcy1usLgvIgDR7IQ0FEQyWsIKMrIt7z1k5cTNLcwlQAz_i0YpmCHHbc8WmqDKrqbyKLV6g9lPJLPjkmKr29mqOPtwMsmouMNknIvRtdh-QE/s1600/Os+dem%C3%B3nios+de+%C3%81lvaro+Cobra.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid4VZDiCCKVbcZ4BH0xgTyc1HOh7jq-Od9Vcy1usLgvIgDR7IQ0FEQyWsIKMrIt7z1k5cTNLcwlQAz_i0YpmCHHbc8WmqDKrqbyKLV6g9lPJLPjkmKr29mqOPtwMsmouMNknIvRtdh-QE/s320/Os+dem%C3%B3nios+de+%C3%81lvaro+Cobra.jpg" width="214" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<b>Os demónios de Álvaro
Cobra<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Carlos Campaniço</i>,</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">Teorema, Fevereiro 2013</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Hoje, de manhã, quando cheguei à livraria, depois de todos
os preparativos rotineiros de início de dia de trabalho, escolhi música
alentejana para a banda sonora da jornada.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Queria, de qualquer forma, continuar a onda de prazer que me
deu a leitura que terminara, horas antes, numa espertina de madrugada.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Conta-nos o livro a história de<i> “Álvaro Cobra, um lavrador
que atrai fenómenos sobrenaturais e tão depressa é tido por bruxo como por
santo”</i>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tudo se passa na, julgo que inventada, aldeia de Medinas, lá
para os lados da Serra da Adiça, onde convivem cristãos sem padre, judeus,
cristãos novos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Para além de Álvaro, o autor oferece-nos personagens como <i>“a bisavó Lourença, que conta cento e
cinquenta anos, […] a mãe, que consegue trabalhar a terra com uma mão e
cozinhar com a outra, […] Branca Mariana, a irmã excessivamente febril que vive
prostrada numa cama onde os lençóis chegam a pegar fogo”.</i> Mas também a dona
de um bordel ambulante que, todos os anos, visita a aldeia por altura da Feira
de Setembro onde também aparece um nómada, vendedor de torrão doce cuja vistosa
filha, que o acompanha, vai mudar a história do lugar.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas não basta criar personagens. Vesti-los, dar-lhes consistência,
apresentar-nos as suas facetas mágicas pondo-nos a acreditar nelas, é trabalho
de filigrana. E Carlos Campaniço faz isso bem. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Diz a editora, em contracapa, que Carlos Campaniço <i>“recicla de forma original o realismo mágico
para revisitar as virtudes e os defeitos das pequenas comunidades rurais do
nosso Portugal</i>”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Dirão alguns críticos e leitores que o realismo mágico já
está muito visto. Não o dirá quem, como eu em tempos, mergulhou nos encantos e
segredos das crenças e lendas de tradição popular, falando directamente com
gentes de aldeia. Velhos a contarem histórias que, de tanto ouvidas e desde há
tanto, se tornam verdadeiras. Mais novos, ainda sem muito mais informação do
que o “espírito santo de orelha”, a tomarem para si o que sempre se disse ou
ouviu dizer.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Chamem-lhe realismo mágico ou o que quiserem, o certo é que
livros como este deleitam-me e, com as suas fantasias, acabam até por não
deixarem que me desligue da terra. Do pó donde viemos e para onde vamos. É assim
a vida.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Com as suas particularidades, ficaram inesquecíveis, o
“Breviário das más inclinações”, de José Riço Direitinho; “Nenhum olhar”, de
José Luís Peixoto; “Os Malaquias, de Adréa del Fuego; “O fabuloso teatro do
gigante”, de David Machado; “A casa das Auroras”, de Cristina Carvalho, por
exemplo. Com ou mais de mágico no seu realismo, são livros que não deixam
apodrecer o cordão umbilical que nos liga à cultura de que somos feitos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Acredito que, para leitores novos e urbanos, tudo soe de
forma diferente. Mas, até para esses, há sempre algo a descobrir neste tipo de
literatura.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois de nomes agora sobejamente conhecidos, Maria do
Rosário Pedreira descobre-nos mais um novo autor para alimentar a nossa boa
literatura.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os demónios de Álvaro Cobra puseram-me, hoje, a ouvir música
alentejana. Nada acontece por acaso.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;">Sines, 14 de Março de 2013 </span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: x-small;">Joaquim Gonçalves</span><o:p></o:p></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-52502896194122211852013-03-06T03:11:00.002-08:002013-03-06T03:12:44.628-08:00Marginal<br />
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHrlyn5_F79n07II8enThV24qvZ3F7lEiw9z9HH21vzvCsutYtRxfNSUV8V70UfX0F__VC6-Y_AckjiiO60OlBVxpG5xVVa3dbSIaREn8Zs12j4FTPEG27gnhtConKaS_d5EdUwzz6J5M/s1600/marginal.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHrlyn5_F79n07II8enThV24qvZ3F7lEiw9z9HH21vzvCsutYtRxfNSUV8V70UfX0F__VC6-Y_AckjiiO60OlBVxpG5xVVa3dbSIaREn8Zs12j4FTPEG27gnhtConKaS_d5EdUwzz6J5M/s640/marginal.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Marginal<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Cristina Carvalho</span></i><span style="font-size: 10.0pt;">, Planeta Manuscrito, Janeiro 2013<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“[…] vá lá a gente
perceber quando é que a gente se engana, quando é que a gente se sente, quando
é que a gente se farta, quando é que tudo se perde”</i> (pág. 129).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Só mesmo, depois. Depois de qualquer coisa. Depois de viver
as situações, depois de viver vida.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Cristina Carvalho, que já nos habituou à diversidade
temática dos seus livros, desta vez senta-nos à mesinha de camilha a
mostrar-nos fotos antigas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Isto porque “a miúda” do romance encontrou centenas de
negativos de fotografias junto aos sacos de lixo, ao fundo da rua. Levou-os
para casa e mandou revelar uns quantos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quando a mãe se deparou com as fotos, reconheceu-as… e
começa a história.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ao longo de perto de 150 páginas, assistimos ao revelar do
tempo. As memórias que justificam enganos, sentimentos, perdições.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E porque as fotos são diferentes, há as que retratam
situações dramáticas, loucuras juvenis, momentos mais escaldantes, paixões.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“[…] e o teu cabelo
desalinhado e o teu cheiro e o teu tu e o teu eu desgraçava-me completamente,
sem juízo, sem rumo […]</i> (pág. 106).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Lidas as histórias que cada fotografia vai contando,
juntamo-las e deparamos com um pedaço de vida que é a vivência da juventude de
determinada época e lugar. A época situa-se nos anos 60-70; o lugar é a linha
do Estoril.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Ao longe, perto do
mar, havia luzes a acender e a apagar. Eram luzes furtivas, medrosas.
Pescadores proibidos. Tal com eu que, proibidamente, me furtava ao amor”</i>
(pág. 141).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não é com as mãos que Cristina Carvalho escreve – é com o
coração.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Sines, 5 de Março de 2013<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Joaquim Gonçalves<o:p></o:p></span></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-64194852944503735972013-02-13T04:34:00.004-08:002013-02-13T04:34:40.199-08:00Estro in Watts. Poesia da idade do rock<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjM4MfyvqwwLiz4V1ALhZDv3C8tfpri6_lw4ktKbz2FcR2BfgQDvKUl6m6KpaAoKxH1Nn-tPmSqguJ-Px_bZ3aFYLyFma8MwecJoILCBMYYFzPySxxb7OQWu8LPZVax-pHePGbjQIt_U4Y/s1600/Estro+in+Watts.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjM4MfyvqwwLiz4V1ALhZDv3C8tfpri6_lw4ktKbz2FcR2BfgQDvKUl6m6KpaAoKxH1Nn-tPmSqguJ-Px_bZ3aFYLyFma8MwecJoILCBMYYFzPySxxb7OQWu8LPZVax-pHePGbjQIt_U4Y/s320/Estro+in+Watts.jpg" width="225" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<!--[if gte vml 1]><v:shapetype id="_x0000_t75" coordsize="21600,21600"
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<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: x-small;"><i>João de
Menezes-Ferreira</i>, Documenta, Novembro 2012</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sabíamos lá o que é que cantávamos? As músicas estavam no
top, entravam pelos ouvidos e pelos corações adentro e tentávamos reproduzir as
letras com os sons que nos pareciam harmónicos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Por vezes, lá entendíamos um <i>I love you</i> ou um <i>love me</i>,
talvez um <i>I feel love</i> ou <i>Let’s spend the night together</i>. Já
percebíamos melhor um revolucionário “<i>I
don’t need no education</i>”. Excepções liguísticas que fugiam ao programa
escolar do “<i>the pencil is on the table</i>”
ou “<i>My name is Joaquim, What’s your
name?”.</i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Estávamos na crista da onda porque levávamos aos bailaricos
e às matinés aquilo que a malta ouvia na solidão da telefonia e ansiava para
momentos em que a companhia desejada estivesse por perto, pelo mais perto
possível, joelho com joelho, mão na mão, mão no pescoço, os lábios, por vezes,
a roçar a orelha meio tapada pelo cabelo cúmplice a esconder o gesto aos paus
de cabeleira, mães, tias ou vizinhas, sentadas na correnteza de cadeiras
encostadas à parede da sala da colectividade.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Fingíamos saber o que dizíamos em idiomas longínquos da
nossa cultura obrigatória. Claro que tirávamos umas pelas outras mas, a pressa
de tocar o que estava a dar, deixava para trás a inteligibilidade do resto.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“<i>Hello darkness my old
friend</i>” - começava assim uma das primeiras músicas que toquei – <i>The sound of silence</i> de Simon &
Garfunkel. Uma melodia linda, repetida à exaustão. Só agora, através do livro
“Estro in Watts. Poesia da idade do rock”, uma antologia com tradução,
introdução e notas de João de Menezes-Ferreira, me apercebi desta parte da
letra:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“E as gentes curvadas
puseram-se a rezar<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Era ao Deus Néon que
prestavam vassalagem<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>E o anúncio dardejou a
sua mensagem<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Através de palavras
que estava a formar<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>E o anúncio dizia “As
palavras dos profetas<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>São escritas nos
subterrâneos e nas paredes<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>E sussurrava no som do
silêncio”</i>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E, como esta, muitas outras, agora em versão original e
respectiva tradução nesta obra monumental da Documenta, com mais de 800 páginas,
que aborda músicas desde 1955 a 1980, numa selecção obrigatoriamente pessoal do
autor.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Aquilo que, nalguns casos, poderá parecer uma má tradução,
não deixa de ser o deixar ao leitor a noção da dificuldade de, neste tipo de
poesia, adaptar a diversidade linguística, fazer coincidir palavras e
expressões que se querem o mais populares possível. Mas, para isso, lá está a
versão original para que cada um interprete conforme a sua sensibilidade ou
conhecimento.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Terminemos com um dos gritos do louco, inconformado mas
perfeccionista Frank Zappa no seu “<i>Hungry
fraks, daddy</i>”, na sua assustadora actualidade:</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>“Eles não se entregarão, nunca mais</i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>À grande loja das máquinas ocidentais</i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>À filosofia que se está a afastar</i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Dos que não têm medo de contar</i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>O que pela cabeça lhes passa</i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Os deserdados</i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Da grande sociedade</i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Freaks esfomeados, papá”</i>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Hoje, já não toco. Ouço a música durante o trabalho e, por
vezes, já nas calmarias, tento entender as letras. Outros tempos, outros
ventos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Estro in Watts. Poesia da idade do rock” acompanha-me,
agora, para tentar entender o que vivi sem saber.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Sines, 13 de Fevereiro de
2013<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Joaquim Gonçalves<o:p></o:p></span></i></div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3071600980680380179.post-3189029714121033302013-01-25T04:14:00.000-08:002013-01-25T05:10:26.378-08:00A Paixão<br />
<div class="MsoNormal">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<!--[endif]--><b>A Paixão<o:p></o:p></b><br />
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Almeida Faria</span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Assírio e Alvim, 12ª edição-revista: Janeiro 2013 [1ª edição 1965]<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br />
<div class="MsoNormal">
Alegria, consolo, contentamento, delícia, gozo, passatempo,
prazer, regalo, sensualidade, volúpia, são apenas alguns dos sinónimos
assinalados no respectivo dicionário para a palavra <b>deleite</b>.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Então, sentindo-me impotente para, por palavras, transmitir
os sentidos, acolho nesta o sentimento de transcendência provocado pela leitura
do segundo romance de Almeida Faria.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É tal a subtileza da sua escrita que até à própria PIDE
passou praticamente despercebida a natureza revolucionária da narrativa.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não se julgue, por isso, que é um livro panfletário. Longe,
muito longe disso. Porque comungo da mesma opinião, não me resguardo de
reproduzir parte da citação de Raduan Nassar na contracapa: “Ao ler <i>A Paixão</i> de Almeida Faria […], entrei em
imediata comunhão com essa obra-prima […]”, classificando-o justamente de poema
em prosa. E, também, da revista americana <i>Books
Abroad</i>: “O seu segundo romance, <i>A
Paixão,</i> possui as mesmas qualidades literalmente espantosas de <i>Rumor Branco</i>, sendo ao mesmo tempo mais
despojado e mais apaixonado; desta vez a severidade é implacável, e a
composição aposta numa disciplina exemplar”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Com uma soberba caracterização de personagens, ao longo de
mais de duzentas páginas, assistimos a uma exposição sociológica e
antropológica sobejamente poética com todos os condimentos que possamos
imaginar: da religião ao fervilhar político; a vida do trabalhador do campo e a
do fazendeiro; a família; a rotura geracional <i>(“[…] se assim é, eu saio, não se discute mais”</i> (p. 192)); a
emigração. E a mulher. Seja a mulher do campo ou a do lupanar, ela aí está
presente <i>“tendo nas mãos os elementos, o
mundo inteiro que ela merece, ela e a sua classe, passo primeiro e necessário
para a vida dos outros, vida não alienada, não nos limites do estômago, nos
quais afinal acabou por cair, depois dessa viagem sabotada que se chamou
revolução francesa e que os poderosos se encarregaram de estragar, sendo hoje
necessária revolução mais radical, capaz de acabar com essa exploração
desembestada que a besta burguesa burocrática inventa sempre com mais subtis
máscaras” </i>(p. 183).</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Uma nota final para a capa lindíssima: <i>A Paixão</i>, desenho de Mário Botas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Leiam. Leiam! Literatura como esta é imortal. Sou demasiado
pequeno para escrever sobre ela.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 10.0pt;">Sines, 25 de Janeiro de 2013 <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-size: 10.0pt;">Joaquim Gonçalves<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 9.0pt;">(A leitura e escrita sobre
este livro são da responsabilidade do autor e foram feitos sem o apoio da Editora)<o:p></o:p></span></div>
</div>
a das arteshttp://www.blogger.com/profile/15374232494425379250noreply@blogger.com0