Monday, February 26, 2007

Hotel Memória

Hotel Memória, João Tordo, Quidnovi, 2007

Confesso que, se soubesse quem era João Tordo antes de ter lido o seu primeiro livro, talvez tivesse algum preconceito e não sei se o teria feito. Só depois de acabar “O livro dos homens sem luz” (Temas e Debates, 2005) soube que o autor é filho do popular cantor Fernando Tordo que teve o auge da sua carreira há já alguns anos. Possivelmente diria qualquer coisa do género: - “Mais um encostado ao nome do pai a tentar a sua sorte”. Teria sido preconceituoso e o preconceito não é uma virtude.
Felizmente li o livro e gostei de tal forma que, tal como nos acontece quanto ficamos satisfeitos com a leitura, fiquei na expectativa de um segundo romance. Dois anos passados, aí está ele, agora com a chancela da Quidnovi (2007) – “Hotel Memória”.
Não sendo surpreendente como o primeiro, é um excelente romance, contrariando opiniões de que de autores com pouca idade não é fácil que saia coisa madura.
Enquanto Londres é o cenário da primeira obra, desta vez somos transportados a Nova Iorque. Nada que se estranhe se atendermos a que Tordo estudou em ambas as cidades. Concluímos que não deu o seu tempo por mal empregue.
Hotel Memória é a nossa cabeça enquanto motor do que somos. Acaba por ser o local onde nos refugiamos para escrever a nossa vida. Para escrever e pensar as vidas que por nós passam também e que condicionam a nossa existência. Por mais que nos esforcemos, não vivemos sozinhos.
Sendo a espinha dorsal do romance, o fadista português Daniel da Silva, que zarpou para a América em busca de melhor vida, não deixa de passar a personagem secundário no conjunto das pequenas misérias com que as vidas se confrontam. E este, meus amigos, é o único nome português que nos aparece. Mas acabamos por nem dar por isso, absorvidos que ficamos pelos mistérios com que o autor nos vai aguçando o apetite. Mistérios de percurso já que, por mais do que uma vez, o narrador nos informa antecipadamente do desfecho das situações.
Se a solidão está presente desde a primeira página, o amor, no entanto, não falta na narrativa. O amor, aliás, inicia a história e acompanha-a até final, apesar da pessoa amada já não existir. O amor, quando é, é assim, dizem, para sempre.
Hotel Memória pode ser lido como uma história da vida que, não raras vezes, nos faz parar a leitura para pensar.
Passado o efeito de surpresa do “Livro dos homens sem luz”, Hotel Memória” confirma mais um escritor cuja obra vou querer acompanhar.

1 comment:

Brunorix said...

Aqui fica um convite para partilhar estas, e outras, opiniões com outros leitores...

http://bilhetedeida.blogspot.com/2008/10/clube-de-leitura.html