Tuesday, June 5, 2007

Todo-o-Mundo


Todo-o-mundo, Philip Roth, D. Quixote, Maio 2007

Tendo lido pouco de Philip Roth, começo a perceber porque é ele um autor de culto. Depois de Animal Moribundo fiquei ansiosamente à espera do livro seguinte. E cá está ele – Todo-o-Mundo.
Lê-se na contracapa: “O terreno em que se move este romance poderoso – o vigésimo sétimo livro de Roth e o quinto a ser publicado no século XXI – é o corpo humano. O seu tema é a experiência comum que a todos nós aterroriza.
Uma história iniludivelmente íntima, embora universal, de perda, arrependimento e estoicismo – o combate de um homem contra a mortalidade.”

É, na verdade, um romance poderoso. Muito poderoso. Fala do corpo, sim, mas daí leva-nos ao espírito, às interrogações do dia em que paramos para pensar em nós próprios, no nosso final, no final dos que nos são ou foram próximos: “Tinha assistido ao desaparecimento do seu pai do mundo, centímetro a centímetro. Tinha sido obrigado a ver tudo até ao fim” (pág. 66).
Quando se fala do fim, do sofrimento, a religião é tema recorrente. Philip Roth não o esquece: “A religião era uma mentira que tinha reconhecido cedo na vida, e achava ofensivas todas as religiões, considerava sem sentido e pueris as suas patetices supersticiosas, não suportava a sua completa imaturidade – a conversa infantil e a virtude e o rebanho, a avidez dos crentes. Não embarcava em balelas sobre a morte e sobre Deus nem em obsoletos céus de fantasia. Só havia os nossos corpos, nascidos para viver e morrer nos termos decididos pelos corpos que tinham nascido e morrido antes de nós” (pág. 57).
Todo-o-Mundo é um livro que não teria lido, não fosse a vontade de ultrapassar preconceitos, de afastar fantasmas. Não sei se consegui esse objectivo já que estou a escrever ainda muito a quente – acabei a leitura há cerca de três horas. Todo-o-Mundo tem de ser digerido, muito bem digerido. Tal como quando comemos uma refeição pesada.
“A velhice não é uma batalha; a velhice é um massacre” (pág. 155).
Este livro é, isso sinto-o, mais um murro que Roth me deu no estômago. Ainda bem que o li. Quero este volume na minha estante.

Sinopse:

O destino do homem de Roth (everyman) é traçado logo a partir do primeiro e chocante confronto deste com a morte, nas praias idílicas dos seus verões de infância, passando pelas provações familiares e pelos sucessos profissionais da sua vigorosa idade adulta e terminando na velhice, em que se sente dilacerado pela decadência dos seus contemporâneos e perseguido pelos seus próprios padecimentos físicos.
Criativo de sucesso numa agência de publicidade de Nova Iorque, é pai de dois filhos, de um primeiro casamento, que o desprezam, e de uma filha, de um segundo casamento, que o adora. É o irmão querido de um bom homem, cuja boa forma física virá a despertar nele uma amarga inveja, e é o solitário ex-marido de três mulheres muito diferentes com quem teve casamentos desastrosos.
É, afinal, um homem que se tornou naquilo que não quer ser. Todo-o-Mundo vai buscar o seu título a uma peça teatral alegórica de um autor anónimo do século xv, um clássico da dramaturgia inglesa antiga, que tem por tema a chamada dos vivos à presença da morte.

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