Wednesday, May 7, 2008

Já ninguém morre de amor

Já ninguém morre de amor

Domingos Amaral, Casa das Letras, Maio 2008

“O pior é que no amor todos temos razão, mais isso é irrelevante porque o amor não é sobre isso” (pág. 235).

O último romance de Domingos Amaral é uma história feita de várias histórias. Histórias de quatro homens, os Palma Lobo, bisavô, avô, pai e filho. São as vidas destes quatro varões, atravessadas por muitas mulheres, que nos levam a passear pelos ambientes sociais, mas também políticos, de épocas distintas mas sucedâneas, tal como as gerações desta família.

“No sábado à noite, navegávamos próximo de Sines. Ao longe, na costa, erguiam-se as grandes chaminés das refinarias, e uma sarça flamejante volteava no alto de uma delas, chicoteando o ar com a fúria irregular das suas labaredas. Mais adiante, os contornos cinzentos da enorme central eléctrica feriam o céu, como se fossem espigões tubulares desejosos de magoar as abóbadas. Na linha da terra, as luzes das estradas estendiam-se, como uma tiara de diamantes laranja” (pág. 11).

Localizados na região, avançamos para o pedido que o mais novo dos Palma Lobo faz ao amigo narrador para que aquele escreva a história da família que, intermitentemente, tem a sua base no Monte das Rosas Negras, em Grândola.
A investigação, intercalada pela actualidade, leva-nos aos finais do século XIX, ao advento da República, ao Salazarismo, ao 25 de Abril, à ocupação de terras e posterior devolução, até aos nossos dias, passando por Moçambique, Angola, Brasil, Lisboa e, claro, o Alentejo.
Nas histórias dos Palma Lobo encontramos um pouco de nós próprios ou de alguém que conhecemos.
A vida tende a colocar-nos tampões na memória. Domingos Amaral, neste Já ninguém morre de amor vai-os abrindo sucessivamente até fecharmos o livro e ficarmos a pensar.
Gostei.

2 comments:

Pedro said...

Já tinha visto o livro. Não me parece que vá lê-lo muito cedo, mas parece ser interessante. Gostei do pormenor das gerações e das várias histórias. A história da família, a História desde o princípio do séc. XX, deve ser um livro rico.

R said...

Eu já li e gostei muito. Trata-se de um romance muito rico e original, de um escritor que precisa de descolar da imagem do pai. Merece!