Tuesday, June 9, 2009

O Deserto sem Saída

O Deserto sem Saída
Mohammed Dib
Quetzal, 2009
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“Terei a certeza de que és aquele que vejo? E tu, tens a certeza de que és aquele que supões? Eu não, Não sabemos. Não sabemos nada” (pág. 80).

São dois homens sozinhos no deserto. Melhor, no meio do deserto. Amiúde os comparamos com o Senhor de La Mancha e seu fiel escudeiro. Hagg- Bar (o amo) e Siklist (o criado). Mas serão dois ou apenas um e o seu espelho e ainda um guarda-chuva que vai marcando o compasso da conversa/meditação, o ritmo da viagem, servindo ainda também para apontar – caminhos ou memórias?

São dois homens que buscam algo. Quando um deles diz que “é preciso que haja alguma coisa para encontrar”, o outro responde: “Encontrar a fonte do sentido […] se não, qual seria o significado de toda esta caminhada, para que serviria este guarda-chuva?” (pág. 83).

O Deserto sem Saída é uma meditação filosófica, um texto literário minimalista. Lemos o livro do argelino Mohammed Did e lembramos o jogo de sombras de Platão, os textos de Beckett interpretados por João Lagarto…

“O medo perpetua a infância no homem” (pág. 107).

“O júbilo prolonga a infância em nós” (pág. 110).

Joaquim Gonçalves
Sines, 9 Junho 2009
Mohammmed Dib nasceu na Argélia em 1920. Estudou literatura e teve várias profissões antes de se dedicar exclusivamente à escrita: foi professor, contabilista, tecelão, designer de tapetes, intérprete e jornalista.
Em 1959, depois da publicação do romance Un été africaine, Dib foi expulso do seu país e exilou-se em França, com a ajuda de Albert Camus e André Malraux.
Dib, que morreu em Paris em 2003, é unanimente considerado o maior romancista e poeta argelino do seu tempo.
Entre os inúmeros prémios literários com que foi distinguido destaca-se o Grande Prémio da Francofonia da Academia Francesa, atribuído pela primeira vez a um escritor do Magrebe.

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