Thursday, March 12, 2009

A Sombra do Mágico

A Sombra do Mágico, Ruben Abella, IZI Press, 2009

É daqueles livros de que apetece tomar algumas notas. Pela imaginação, pela beleza das metáforas, por pequenos nadas, curtas frases inspiradas e inspiradoras.

“Beato era tudo. Era o destino decifrado, a promessa de amor a sério, a ponte que chegava até à outra margem do horizonte” (pág. 189).

Beato é o “deus” do mundo. O mundo é a Rua Luna que ele apenas visita por altura de todos-os-santos… quando visita.
Leandro, Beatriz e Paniagua são os principais “povos” que habitam aquele mundinho. Golias é outra coisa, ou talvez não tão diferente deles, apesar do seu aspecto disforme e assustador.

Lemos este pequeno livro, até cujo formato agrada pela facilidade de manuseamento, e confrontamo-nos com uma actualidade entrecortada por qualquer coisa de onírico, de recordação de infância.

Numa moldura em que nem falta, como referência cronológica, a ida do Homem à Lua ou a guerra do Golfo, somos surpreendidos por um mágico ambulante que se faz transportar numa velha carroça de cores debotadas!

“Leandro era respeitado pelos habitantes da rua Luna porque defendia os seus interesses. Foi ele quem salvou o [cinema] Avenida quando o Departamento de Urbanismo ordenou a sua demolição para construir um hipermercado” (pág. 166).

Mais actual que isto? Não é fácil!

Ruben Abella entrega-nos os ambientes colocando-nos nas fossas nasais:

“O ar cheirava a verde, como se o bom tempo tivesse feito crescer as coisas no rio” (pág. 165).

Com uma técnica algo semelhante à utilizada por Sándor Márai em “A Mulher Certa”, o autor espanhol constrói a história cruzando a narrativa de cada um dos quatro personagens principais.

“A sombra do Mágico” é uma narrativa irónica, insólita, bela que vale a pena revisitar como quem volta à rua onde nasceu.

“Fechou os olhos e sentiu na pele a suave carícia do destino” (pág. 188).

Mas tem mais!...

Joaquim Gonçalves
Sines, Março 2009

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