Monday, August 8, 2011

As luzes de Leonor

As Luzes de Leonor
Maria Teresa Horta
D. Quixote, Maio 2011
1065 páginas

Cheguei à página 1054 e continuei a folhear o livro. Depois da história, o Epílogo. A ocupar apenas meia página, termina o capítulo XXV e o romance. Continuo ainda para os Agradecimentos. Muitos. Depois, a Bibliografa. Extensa, como seria de esperar. E continuo a folhear. Não quero largar o livro. A última página numerada tem aposto 1065. Sigo em frente. Uma página em branco. Duas. Três, quatro… sete.

Será assim o final? A morte? Depois de toda uma vida cheia, páginas em branco? E quero voltar atrás.

Volto ao início. O romance começa com a palavra “Quando” e termina com “nos separam” – Quando nos separam.

Cerca de duzentos anos separam duas vidas. A de Leonor, marquesa de Alorna, da sua neta Maria Teresa Horta (MTH) que aqui a revisita. A reconstrói.

Mas a nossa poetisa contemporânea, com esta obra magistral, não deixa que as tais páginas em branco signifiquem morte. Porque a morte é apenas esquecimento. Porque Leonor de Almeida Portugal prolonga-se em MTH.

As Luzes de Leonor não é uma biografia. Para a caracterização sintética da Marquesa de Alorna quase bastavam os dois últimos parágrafos da página 175: “Sobressalta-se Leonor, que a si mesma jurara nunca aceitar a agulha em vez da pena, bordar a cercadura da vida em vez de escrever poemas. Dedicar-se a brilhar na Corte em vez de estudar e aprender.
A entender e a querer um novo mundo


MTH assenta numa investigação aturada ao longo de treze anos e, tal como Leonor, “desdobra devagar as suas asas áureas […] resvalando nas arestas do ar” (p. 927).

Isto é poesia. E é lindo!

O fim custa a aceitar. Custa a aceitar depararmo-nos com as folhas brancas das guardas finais do livro.

Durante centenas de páginas fomos levados pela mão de visita ao Século das Luzes. Vivemos na Corte portuguesa e visitámos outras da Europa. Andámos pelas ruas da baixa lisboeta destruídas pelo terramoto de 1755. Cheirámos. Ah! Os cheiros descritos pela autora! E as cores. As roupas, o mobiliário, a arquitectura!...

Poderia ficar para aqui a discorrer eternamente sobre a obra-prima da literatura portuguesa que é As luzes de Leonor. Não fico. Deixo para os leitores o prazer da descoberta.

Sines, Julho 2011
Joaquim Gonçalves

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