A vida inútil de José Homem
Marlene Ferraz,
Gradiva, Março 2013
Acabei de ler o livro e não o quis largar. Fiquei para ali,
a olhar para ele, voltei à ficha técnica, revi a capa, reli o texto da
contra-capa, voltei à badana de capa e tornei a ler a biografia da autora e
fixei-me na fotografia – bonita.
Há livros assim. Lidos que estão, souberam-nos a pouco. Ou
talvez não. Se a história continuasse talvez não ficasse o mesmo sabor.
A vida inútil de José
Homem é um livro premiado. Recebeu o Prémio Literário Revelação Agustina
Bessa-Luís 2012, cujo nome acarreta, só por si, alguma responsabilidade.
“Malditos pretos” (p.
11). É assim o terrível início deste romance que me surpreendeu pela
construção dos personagens: O velho José a correr com a canalha que lhe rouba
diospiros que ele não aproveita e a sua evolução como pessoa em fim de vida;
Antonino, o rapaz que se ajeitou “no
prolongamento falso do seu corpo […] Percebia-se naturalmente que seria um
engenho pouco ajustado à sua altura ainda baixa, uma perna de homem num rapaz
de curta idade. Depois do alinhavo dos calções numa fazenda escura, podia
ver-se o amarelo ordinário no plástico desbotado da peça artificial. A
verdadeira perna era claramente mais estreita, uma linha de vida que carregava
a outra sem qualquer lamento” (p.12).
Depois, há Delfim, o padre que acolhe os rapazolas fugidos
da guerra de um país que não esquecem, apesar dos ares europeus.
Mais tarde aparecerá o cão que, naturalmente Antonino
baptiza de Luanda…
E outros personagens, não muitos, nos vão surgindo, como o
velho faroleiro, figura enigmática, entre o sonho e a realidade.
Apesar de romance, é de uma triste realidade que tratam as
cerca de 170 páginas que me prenderam desde o início.
Mas nem só de tristezas se faz um bom livro. Marlene Ferraz
soube cunhar com algum humor muitas das passagens que me apanharam com um
sorriso feliz.
Carinho, é a palavra que me sobra, acabada a leitura de A vida inútil de José Homem.
Sines, 29 de Junho de 2013
Joaquim Gonçalves
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