Saturday, June 29, 2013

A vida inútil de José Homem



A vida inútil de José Homem
Marlene Ferraz, Gradiva, Março 2013

Acabei de ler o livro e não o quis largar. Fiquei para ali, a olhar para ele, voltei à ficha técnica, revi a capa, reli o texto da contra-capa, voltei à badana de capa e tornei a ler a biografia da autora e fixei-me na fotografia – bonita.

Há livros assim. Lidos que estão, souberam-nos a pouco. Ou talvez não. Se a história continuasse talvez não ficasse o mesmo sabor.

A vida inútil de José Homem é um livro premiado. Recebeu o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís 2012, cujo nome acarreta, só por si, alguma responsabilidade.

“Malditos pretos” (p. 11). É assim o terrível início deste romance que me surpreendeu pela construção dos personagens: O velho José a correr com a canalha que lhe rouba diospiros que ele não aproveita e a sua evolução como pessoa em fim de vida; Antonino, o rapaz que se ajeitou “no prolongamento falso do seu corpo […] Percebia-se naturalmente que seria um engenho pouco ajustado à sua altura ainda baixa, uma perna de homem num rapaz de curta idade. Depois do alinhavo dos calções numa fazenda escura, podia ver-se o amarelo ordinário no plástico desbotado da peça artificial. A verdadeira perna era claramente mais estreita, uma linha de vida que carregava a outra sem qualquer lamento” (p.12).

Depois, há Delfim, o padre que acolhe os rapazolas fugidos da guerra de um país que não esquecem, apesar dos ares europeus.

Mais tarde aparecerá o cão que, naturalmente Antonino baptiza de Luanda…

E outros personagens, não muitos, nos vão surgindo, como o velho faroleiro, figura enigmática, entre o sonho e a realidade.

Apesar de romance, é de uma triste realidade que tratam as cerca de 170 páginas que me prenderam desde o início.

Mas nem só de tristezas se faz um bom livro. Marlene Ferraz soube cunhar com algum humor muitas das passagens que me apanharam com um sorriso feliz.

Carinho, é a palavra que me sobra, acabada a leitura de A vida inútil de José Homem.

Sines, 29 de Junho de 2013

Joaquim Gonçalves

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