A Velocidade dos Objectos Metálicos
Tiago R. Santos, Clube do Autor, Setembro de 2013
Tiago R. Santos, Clube do Autor, Setembro de 2013
Não escrevo sobre livros. Isto é, como crítico. Parece-me
que, para o fazer, precisava de ter formação nas áreas das literaturas, que não
tive, e leitura de muitos clássicos, que não fiz.
Não sou, apesar disso, imune ao que os livros dizem e à
forma como o dizem.
Não tendo os clássicos na bagagem, tenho, todavia, muitos
milhares de páginas lidas, umas, mais, outras, menos atentamente.
Não li muitos clássicos, duvido até dessa classificação,
mas, dentro do meu ecletismo, consigo fazer escolhas, tomar opções, sobretudo
tecer juízos, nos parâmetros que o meu cérebro foi delineando automaticamente
com o tempo.
Não escrevendo sobre livros, escrevo a partir de alguns dos
que vou lendo. Nunca o faço quando a leitura não me agradou.
É o despertar dos sentidos que a leitura me provoca que leva
à escrita. Porque também gosto de escrever e, ao fazê-lo a partir de uma obra
de que gostei, como que me aproprio um pouco dela. Ao escrever, o livro
torna-se mais um bocadinho meu.
Por outro lado, como livreiro, ofereço a quem me lê, o
pulsar que o livro me provocou.
Há livros sobre os quais é fácil escrever. Pela história,
pelo enredo, pelo tema, porque são fáceis de trabalhar a partir de uma ou outra
situação que se lhe roubo.
Outros, há, que não são pêra doce. Ou porque nos
ultrapassam, fazendo-nos sentir pequenos à sua sombra, ou porque são difíceis
de traduzir em palavras, ou… ou por muito outro motivo.
Quando as editoras, as que o fazem, apresentam novidades ao
livreiro, apostam sempre mais num ou noutro título. Alguns, no entanto, não
passam da simples menção ou exibição da capa. Foi o caso.
Sendo, como referi, algo eclético, desde algum tempo que,
sem intenção premeditada, tenho uma grande curiosidade por autores novos ou
desconhecidos, sobretudo de língua portuguesa.
Aqui chegado, nesta breve arenga em que era pressuposto
falar de um livro, tenho de confessar que não consigo. Sinto-me vazio.
É novo, o autor. Chama-se Tiago R. Santos. É o seu primeiro
romance, o livro, e tem por título A Velocidade
dos Objectos Metálicos.
Não me foi “empurrado” pela editora – fui eu que o escolhi.
Deliberadamente. Pela curiosidade de que falei.
Depois de lidas as suas perto de 180 páginas percebemos que
é um romance. Até lá, lemos capítulos que são contos com ligações entre
personagens. No fim, a cabeça do leitor dá o nó. E o leitor fica, também, com
um nó – na garganta. E um vazio no estômago.
Sobre a história que o livro conta não faltam recensões na
imprensa. E para aí remeto quem disso queira saber.
Pela minha parte, apenas consigo recomendar veementemente a
sua leitura. Lendo-o ficamos a conhecermo-nos melhor e ao mundo em que vivemos.
Tiago Santos é um miúdo com menos de 40 anos. Quantos de nós
o somos?
Apostada na capa está a frase: “O mundo dos adultos não é
para crianças”. Não é, não.
Era para escrever sobre um livro e acabei por falar mais de
mim.
«“Respice finem”.
“Não sei o que é que
isso quer dizer”.
“Tens a frase desenhada
no braço”.
O rapaz olha para a sua própria tatuagem.
O rapaz olha para a sua própria tatuagem.
“Olha para o fim,
considera o resultado. É isso que quer dizer. Agora já sabes”, acrescenta o
velho.» (p. 176).
Depois desta situação, apetece-me dizer: - Agora, tenho que
pensar melhor, pai.
Sines, 16 de Outubro de 2013
Joaquim Gonçalves
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