O meu nome é Lucy
Barton
Elizabeth Strout, Alfaguara, Setembro 2016
Nunca tinha ouvido falar da senhora, confesso. Segundo a
apresentação na badana, “[…] é uma das romancistas mais aclamadas da
actualidade”.
Venceu o Prémio Pulitzer, em 2008, com o romance Olive
Kitteridge mas a profusão de prémios aliada à idade baralha-me a mente e,
muitas vezes, confundo tudo.
Não tendo fixado o nome da autora, li sobre O meu nome é
Lucy Barton no suplemento Babélia, do El País, quando o livro saiu em
Espanha. Despertou-me curiosidade e, como acontece amiúde, fiquei com a pulga
atrás da orelha à espera do lançamento em Portugal não me tendo, desta vez, a
memória atraiçoado.
Ora, não tendo o nome da autora devidamente encaixado na
memória e estando a ler um livro que tem, também, um nome no título, não raras
vezes, durante a leitura, fui à capa confirmar quem era quem quando durante a
prosa era mencionado um nome de mulher.
É que o romance tem como personagem principal e narradora
uma mulher que, numa cama de hospital, fala com a mãe, com quem perdera há
muito o contacto, sobre reminiscências das suas vidas, e connosco sobre o livro
que escreveu.
Tudo isto baralha o leitor incauto ao ponto de o levar a
pensar que se trata de um romance autobiográfico. Parece mas, certamente, não o
será. É, sim, um livro muito bem escrito sobre relações humanas, família, o fio
da navalha de uma cama de hospital.
Não sigo as opiniões generalizadas da comunicação social
internacional apostas na badana da contracapa, bem como a apresentação genérica
do editor de que se trata de um livro sobre as relações entre mães e filhas.
Na realidade, as conversas entre Lucy Barton e a sua mãe,
expondo as suas relações, não são mais do que o fio condutor que nos deixa
inúmeras ramificações para outro tipo de relações – familiares, de amizade e da
pessoa com o próprio mundo.
Elizabeth Strout, em cerca de cento e setenta páginas,
escreve-nos o mundo a partir de uma cama de hospital. Se o passado e os amigos
vão sendo relembrados, a família, apesar de todos os contributos do mundo para
a sua desagregação, tende a vingar, mesmo que de uma forma estranha.
Foi semifinalista do Booker Prize mas podia ter ido mais
além. O meu nome é Lucy Barton, da americana Elizabeth Strout, é um
livro que recomendo aos meus amigos.
Sines, 13 de Setembro de 2016
Joaquim Gonçalves
1 comment:
Parece interessante.
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