Monday, November 26, 2007

Laura e Julio

Laura e Julio, Juan José Millás, Quetzal, 2007

Laura e Júlio, Jua José Millás, Quetzal, 2007

“[…] e o vizinho respondeu que a história da humanidade se podia resumir a um combate contra a percepção, criadora infatigável de miragens” (p.121).

“Surpreendeu-o a facilidade com que adoptava os costumes ou os pontos de vista de Manuel e recordou um artigo de psicologia, que lera numa revista de decoração, de acordo com o qual um modo muito frequente de aliviar a dor pela perda de um ser querido consistia em converter-se, de uma maneira ou de outra, na pessoa desaparecida. Adquiriam-se as suas rotinas, os seus hábitos, as suas esquisitices e, deste modo, o defunto continuava a viver naqueles que o choravam” (p.83).

Laura e júlio é um livro de espelhos e de sombras. A Alegoria da Caverna, de Platão, a desaguar nos tempos modernos, onde já há espelhos por detrás dos quais podemos ver a vida do outro lado sem que sejamos observados. Pelo menos podemos tentar…
É o que faz Júlio, depois de Laura o pôr fora de casa. A partir desse momento, Júlio vive, para si mesmo, uma vida paralela, na casa ao lado de Júlia, sem que ela o sonhe sequer. Casa esta de Manuel, um amigo comum que sofrera um acidente ficando em coma no hospital.
Júlio toma para si a vida de Manuel, vestindo-lhe as roupas e usando o seu perfume. Abandona hábitos como o de andar de mota, deixando-a encostada a um candeeiro por onde passa de vez em quando. Ao longo do tempo vai assistindo à sua degradação – primeiro roubam-lhe um espelho, até ao dia em que apenas sobra o depósito e o garfo da roda da frente.
Amor ou ódio, um triângulo amoroso onde, mais tarde, aparece um quarto elemento – Amanda, meia-irmã de Júlio…
Um romance de forte carga psicológica e leitura compulsiva.

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