Monday, October 20, 2008

O Jogo do Anjo

O Jogo do Anjo

Carlos Ruiz Zafón
D. Quixote, Outbro 2008



"Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita umas moedas ou um elogio a troco de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente no sangue o doce veneno da vaidade e acredita que, se consegui que ninguém descubra a sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de lhe dar um tecto, um prato de comida quente ao fim do dia e aquilo por que mais anseia: ver o seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente lhe sobreviverá. Um escritor está condenado a recordar esse momento pois nessa altura já está perdido e a sua alma tem preço."

É assim que começa “O Jogo do Anjo”, o mais recente romance de Carlos Ruiz Zafón que, em 2004, nos surpreendeu com “A Sombra do Vento”.
Utilizando ambientes e alguns dos personagens do seu livro anterior, nomeadamente o fabuloso “Cemitério dos livros esquecidos”, o escritor catalão conduz-nos através de um rol de intrincadas coincidências. Cada capítulo é como que uma pequena história em que, à aproximação do epílogo, surge invariavelmente uma proposição que induz a que peguemos na sua consequência, qual matrioshka em que cada boneca que sai da sua antecedente tem uma vestimenta própria sem que, no entanto, se afaste do modelo da boneca-mãe.
Com este engodo no final de cada capítulo a leitura não pode, pois, deixar de ser impulsiva.
Desde a “casa de partida” que este romance é, de facto, um jogo em que nos vamos deparando com uma promiscuidade entre o real e o fantástico. Cinematográfico, Zafón faz-nos entrar para cenários de tal maneira fantasiosos como se de uma projecção a três dimensões se tratasse.
Depois de, em “A Sombra do Vento” caminharmos pela Barcelona dos anos 40, “O Jogo do Anjo” transporta-nos para os anos 20 da mesma cidade.
O mundo continua a ser o dos livros, numa história de intriga, amor, amizade e muito mistério, duma densidade surpreendente.

Aqui deixamos um “cheirinho” dos ambientes:



Por outro lado, ninguém melhor do que o autor para nos falar da sua criação:



Finalmente, uma citação que julgamos oportuna:

"[...] um dos artifícios mais complexos e de mais difícil execução em qualquer texto literário: a aparente ausência de qualquer artifício. A linguagem soava chã e singela, a voz honesta e limpa de uma consciência que não narra, limitando-se a revelar" (pág. 296).

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