Cristina Carvalho
Planeta, Abril 2011
Cristina Carvalho é louca. Cristina Carvalho é uma louca boa. Daquelas que nos emprestam momentos de irrealidade para ilustrar as vidas cinzentas de que temos todos um pouco.
Não será disso exemplo Nocturno – o romance de Chopin, o seu livro anterior, mas o mesmo não diremos do fabuloso O gato de Upsala. De obras mais antigas não falamos porque as não lemos. Lá iremos, um dia!...
O seu mais recente trabalho, A casa das Auroras, começa por ter um bom título e uma boa capa.
Nesta obra assistimos a uma capacidade de abstracção associada a um sentido onírico que, por sua vez, não é indissociável de uma realidade etnológica que é tão portuguesa.
Não se deixe o leitor enganar pela falsa ingenuidade na descrição das personagens:
“As mulheres tinham as caras secas como as peras esquecidas nas árvores, exibiam peles de bichos enroladas nos pescoços friorentos” (p. 138).
Cristina Carvalho cria e dá vida a personagens fabulosas.
Uma história, aliás, várias histórias que se cruzam, na zona da sua querida Ericeira, que começa na chegada à Estrada das Quintas, título do primeiro capítulo, e acaba na morte. Não será o que quer dizer o título Embora a noite seja sempre uma certeza do capítulo que acaba o livro?
São mortas, mulheres mortas que nos falam. Fantasmas que se sentam a beberem chá, à volta de uma mesa, numa casa abandonada. Mas falam-nos é da vida, afinal. E da velhice: “gente que não é gente mas também ainda não deixou de o ser completamente” (p. 144).
Mas não se assuste o leitor com a minha prosa que acaba por complicar uma coisa que é tão simples – um livro escrito em português sem rodriguinhos. Uma história fantástica, quantas vezes hilariante, que nos faz voltar à Terra, esquecidos dela que andamos a carregar em botões para viver.
Diz que é a pessoa mais velha que ali mora. Chama-se Tiágostinho. Depois de bombardeado com as perguntas que a viajante desconhecida lhe faz, pergunta ele: “E a senhora vem então ao quê?” (p. 23).
Não é delicioso?
Uma história, aliás, várias histórias que se cruzam, na zona da sua querida Ericeira, que começa na chegada à Estrada das Quintas, título do primeiro capítulo, e acaba na morte. Não será o que quer dizer o título Embora a noite seja sempre uma certeza do capítulo que acaba o livro?
São mortas, mulheres mortas que nos falam. Fantasmas que se sentam a beberem chá, à volta de uma mesa, numa casa abandonada. Mas falam-nos é da vida, afinal. E da velhice: “gente que não é gente mas também ainda não deixou de o ser completamente” (p. 144).
Mas não se assuste o leitor com a minha prosa que acaba por complicar uma coisa que é tão simples – um livro escrito em português sem rodriguinhos. Uma história fantástica, quantas vezes hilariante, que nos faz voltar à Terra, esquecidos dela que andamos a carregar em botões para viver.
Diz que é a pessoa mais velha que ali mora. Chama-se Tiágostinho. Depois de bombardeado com as perguntas que a viajante desconhecida lhe faz, pergunta ele: “E a senhora vem então ao quê?” (p. 23).
Não é delicioso?
Cristina Carvalho não é louca, afinal. Loucos somos nós!
Sines, 14 de Maio de 2011
Joaquim Gonçalves
Sines, 14 de Maio de 2011
Joaquim Gonçalves
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