Wednesday, March 6, 2013

Marginal






Marginal
Cristina Carvalho, Planeta Manuscrito, Janeiro 2013

“[…] vá lá a gente perceber quando é que a gente se engana, quando é que a gente se sente, quando é que a gente se farta, quando é que tudo se perde” (pág. 129).

Só mesmo, depois. Depois de qualquer coisa. Depois de viver as situações, depois de viver vida.

Cristina Carvalho, que já nos habituou à diversidade temática dos seus livros, desta vez senta-nos à mesinha de camilha a mostrar-nos fotos antigas.

Isto porque “a miúda” do romance encontrou centenas de negativos de fotografias junto aos sacos de lixo, ao fundo da rua. Levou-os para casa e mandou revelar uns quantos.

Quando a mãe se deparou com as fotos, reconheceu-as… e começa a história.

Ao longo de perto de 150 páginas, assistimos ao revelar do tempo. As memórias que justificam enganos, sentimentos, perdições.

E porque as fotos são diferentes, há as que retratam situações dramáticas, loucuras juvenis, momentos mais escaldantes, paixões.

“[…] e o teu cabelo desalinhado e o teu cheiro e o teu tu e o teu eu desgraçava-me completamente, sem juízo, sem rumo […] (pág. 106).

Lidas as histórias que cada fotografia vai contando, juntamo-las e deparamos com um pedaço de vida que é a vivência da juventude de determinada época e lugar. A época situa-se nos anos 60-70; o lugar é a linha do Estoril.

“Ao longe, perto do mar, havia luzes a acender e a apagar. Eram luzes furtivas, medrosas. Pescadores proibidos. Tal com eu que, proibidamente, me furtava ao amor” (pág. 141).

Não é com as mãos que Cristina Carvalho escreve – é com o coração.

Sines, 5 de Março de 2013
Joaquim Gonçalves

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