A mulher do chapéu de palha
Graça Pina de Morais,
Antígona, 2000
Por entre livros novos, livros, densos, livros de novos
autores portugueses, livros de autores originários de países imprevisíveis, por
vezes, aparece um ou outro livro que chama a atenção por um ou outro motivo.
Pela capa, pelo aspecto gráfico no seu conjunto, pela idoneidade da editora,
até, pelo tamanho.
Recebido o acervo da Antígona, inúmeros são os títulos em
que apetece, desde logo, pegar, tal é a profusão de qualidade.
Em toda a selecção recebida, um ou outro autor repete-se,
embora em géneros diferentes: George Orwell, Albert Cossery ou a insuspeita
Graça Pina de Morais. Desta autora portuense, de que recebemos também o livro
de contos O Pobre de Santiago e o
romance Jerónimo e Eulália,
escolhemos o conto inédito A Mulher do
Chapéu de Palha. Pequenino, estava mesmo a calhar para leitura depois do
jantar. Em boa hora.
“A mulher bateu a porta de casa e saiu para a avenida”.
Assim começa a prosa que nos poderia levar a todo o lado. Desde manhã que uma
pergunta a assalta: “O que poderá ter para mim ainda um sentido?”
Graça Pina de Morais leva-nos a percorrer as ruas da cidade
com cheiro a maresia, acompanhamo-la de eléctrico de Leça ao mercado de
Matosinhos numa escrita não imune à sensibilidade feminina.
Pelo caminho depara-se com um vendedor que apregoa por um
funil de lata um xarope para todos os males.
A sua cabeça não pára. A imaginação leva-a a outros mundos.
E uma pergunta não lhe sai da cabeça: “por que motivo os seres humanos se
brutalizam uns aos outros?”
Sines, 16 de Junho de 2012
Joaquim Gonçalves
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