Rómulo de Carvalho/António Gedeão. Príncipe Perfeito
Cristina Carvalho,
Estampa, Outubro 2012
Era uma vez um menino
Que não era nada feio.
O que tinha de
extraordinário
Era um feitiço no meio”
(Escrito por Rómulo de
Carvalho aos cinco anos)
Confunde-se com paixão o entusiasmo a que Cristina Carvalho
se entrega nesta espécie de biografia do seu pai.
Espécie de biografia porque foge aos cânones do género. Como
seria de esperar desta autora de quem espero sempre, com ansiedade, pela sua próxima obra.
Li, ontem, no seu Facebook o seu grito de queixa para que não
lhe peçam directamente exemplares desta obra recém-publicada e que inaugura uma
nova colecção – memória das letras – da Editorial Estampa. Que o façam às
livrarias, que são os locais próprios para tal efeito, apela Cristina. E nós,
claro, aplaudimos.
Não será por maldade que as pessoas assim agem. É que, com
estas redes sociais, o autor está ali mesmo à mão, acessível. Mas a sua função é
escrever. E falar da obra, se assim o entender. Divulgá-la, porque não?
Cristina Carvalho não deixa os seus créditos por mãos alheias.
“[…] eu quero, eu
desejo, eu tenho, eu posso, adoeço, tenho febre, aquecendo até explodir,
rebento no teu cansaço, descanso no teu olhar” (p. 57).
Como paixão de adolescente, aqui tão bem retratada, Cristina
Carvalho entrega-se às memórias – as suas e as que, naturalmente, colheu.
A biografia de Gedeão, o poeta da Pedra Filosofal, a biografia de Rómulo, o autor dos Cadernos de iniciação científica,
surge-nos indissociável de parte da de quem a escreve. São momentos únicos que
a memória guarda: os gestos repetidos do pequeno-almoço; o copinho dos aniversários;
a caneca do café com leite; o gato que Rómulo não teve!
“Posso?” – antes de entrar naquela divisão a meio do
corredor. O respeito, a educação, as regras não escritas, saudáveis. Rómulo de
Carvalho na intimidade. Talvez não fosse despropositado este sub-título para o
livro.
Apesar de algum relato desapaixonado sobre a vida deste
insigne homem da cultura e que viveu para a cultura, Cristina Carvalho não se
inibe de gritar surdamente o amor pelo seu pai. E isso é bonito.
As homenagens e a extensa e diversificada bibliografia
completam este volume de 174 páginas, ainda com algumas fotos preciosas.
Rómulo de Carvalho/António
Gedeão, repito, não é uma biografia. É, isso sim, um testemunho imprescindível
para o necessário estudo aprofundado deste homem e obra fundamentais para a
nossa Cultura.
Não somos insubstituíveis? Não conheço obra comparável à de
Rómulo/Gedeão. Mas isso sou eu, que conheço pouco, possivelmente!... E julgo
que só a Cristina Carvalho poderia escrever este livro sobre um menino que
cresceu com um feitiço no meio.
Sines, 27 de Outubro de 2012
Joaquim Gonçalves
Outras obras de Cristina Carvalho:
- Até já não é adeus
- Momentos misericordiosos
- Ana de Londres
- Estranhos casos de amor
- Nocturno. O romance de Chopin (PNL) apresentado pela A das Artes em Sines a 11 de Junho de 2010
- Tarde fantástica
- Lusco-Fusco (PNL)
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