Tuesday, April 2, 2013

Homer & Langley


Homer & Langley
E. R. Doctorow, Porto, 2013

“Eu sou o Homer, o irmão cego. Não perdi a vista de repente, foi como nos filmes, um lento fade-out. Quando me contaram o que estava a acontecer, tive curiosidade em avaliar o fenómeno; estava no fim da adolescência, tudo me interessava. O que fiz, nesse Inverno em particular, foi postar-me a uma certa distância do lago de Central Park, onde as pessoas costumam patinar no gelo, e descobrir o que deixava de ver de dia para dia” (pág. 7).

Assim se inicia o fabuloso romance de Edgar Lawrence Doctorow, 82 anos, mas praticamente desconhecido em Portugal.

Homer e Langley são dois irmãos, o que sobra de uma família abastada da Quinta Avenida, em Nova Iorque.

Em menos de duzentas páginas, o autor norte-americano, colocando Homer como narrador, romanceia a história dos dois irmãos que, em 21 de Março de 1947, foram encontrados soterrados debaixo de toneladas de lixo acumulado na mansão onde viviam.

Homer toca piano e sonha com romances. Langley inventa uma teoria de substituição e compra todos os jornais que encontra para os estudar e catalogar, de forma a fazer, ele próprio, num futuro que nunca chegará, um jornal de edição única que dê para ser lido com actualidade em qualquer época.

Durante a narrativa, com inúmeros aspectos tragicómicos, acabamos por ser guiados através de uma parte da história da América e do mundo na primeira metade do século vinte, com breves referências à Primeira Guerra Mundial, em que Langley participou, as Guerra Fria, as Guerras da Coreia e do Vietname, o surgimento do movimento hippie, a evolução da música e dos instrumentos musicais, os gangsters, a Grande Depressão, a Lei Seca, os assassinatos de Luther King e dos irmãos Kenedy, até mesmo a evolução da música e dos instrumentos musicais.

Sem nunca se abandonarem um ao outro, os irmãos, depois de verem, deliberadamente, a sua casa como um salão de festas ou poiso de hippies, vão-se fechando ao mundo até ao ponto de serem notícia que atravessa fronteiras.

Doctorow pegou num acontecimento real, que se tornou um mito urbano, e deu-nos um daqueles romances que nos perseguem enquanto há páginas para ler. Venha o próximo!

Sines, 2 de Abril de 2013
Joaquim Gonçalves

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