Homer & Langley
E. R. Doctorow,
Porto, 2013
“Eu sou o Homer, o
irmão cego. Não perdi a vista de repente, foi como nos filmes, um lento
fade-out. Quando me contaram o que estava a acontecer, tive curiosidade em
avaliar o fenómeno; estava no fim da adolescência, tudo me interessava. O que
fiz, nesse Inverno em particular, foi postar-me a uma certa distância do lago
de Central Park, onde as pessoas costumam patinar no gelo, e descobrir o que
deixava de ver de dia para dia” (pág. 7).
Assim se inicia o fabuloso romance de Edgar Lawrence
Doctorow, 82 anos, mas praticamente desconhecido em Portugal.
Homer e Langley são dois irmãos, o que sobra de uma família
abastada da Quinta Avenida, em Nova Iorque.
Em menos de duzentas páginas, o autor norte-americano, colocando
Homer como narrador, romanceia a história dos dois irmãos que, em 21 de Março
de 1947, foram encontrados soterrados debaixo de toneladas de lixo acumulado na
mansão onde viviam.
Homer toca piano e sonha com romances. Langley inventa uma
teoria de substituição e compra todos os jornais que encontra para os estudar e
catalogar, de forma a fazer, ele próprio, num futuro que nunca chegará, um
jornal de edição única que dê para ser lido com actualidade em qualquer época.
Durante a narrativa, com inúmeros aspectos tragicómicos,
acabamos por ser guiados através de uma parte da história da América e do mundo
na primeira metade do século vinte, com breves referências à Primeira Guerra
Mundial, em que Langley participou, as Guerra Fria, as Guerras da Coreia e do
Vietname, o surgimento do movimento hippie, a evolução da música e dos
instrumentos musicais, os gangsters, a Grande Depressão, a Lei Seca, os
assassinatos de Luther King e dos irmãos Kenedy, até mesmo a evolução da música
e dos instrumentos musicais.
Sem nunca se abandonarem um ao outro, os irmãos, depois de
verem, deliberadamente, a sua casa como um salão de festas ou poiso de hippies,
vão-se fechando ao mundo até ao ponto de serem notícia que atravessa
fronteiras.
Doctorow pegou num acontecimento real, que se tornou um mito
urbano, e deu-nos um daqueles romances que nos perseguem enquanto há páginas
para ler. Venha o próximo!
Sines, 2 de Abril de 2013
Joaquim Gonçalves
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