Friday, February 19, 2016

Rio do Esquecimento

Rio do Esquecimento
Isabel Rio Novo, D. Quixote, Fevereiro 2016
Finalista do Prémio Leya 2015

Terminada a leitura de Rio do Esquecimento, fica-nos a sensação de ter lido um jornal antigo. Daqueles que se encontram em bibliotecas ou nas gavetas do esquecimento em casas de famílias antigas.

Admito que, por uma mistura de exiguidade de tempo e preconceito, apenas folheei o anterior Histórias com Santos, pequeno livro de contos editado pela Simplesmente, também de Isabel Rio Novo.

Neste romance, agora editado pela D. Quixote, deparamo-nos com uma escritora madura, sabedora do que quer, daquilo que quer dar e mostrar e, finalmente, para onde quer levar o leitor.

Não sendo propriamente adepto de avanços e recuos cronológicos no decorrer de um romance, admito que, neste, tal é feito com tal mestria que em nenhum momento me senti baralhado.

O sonoro Rio do Esquecimento – lá para o meio perceberão porque sonoro – transporta-nos para o século de oitocentos, na cidade e região do Porto, quando os brasileiros de torna-viagem chegam, uns de mãos a abanar, outros, de paletó e bolsos cheios para gastar na construção de uma vida e cidade de fausto.

Pelo meio, o romance. Amores, desamores, crime e traições, tão ao jeito de Camilo.

Isabel Rio Novo muniu-se de vasta informação para nos levar pela mão em visita às ruas e costumes de um Portugal de fausto e miséria. Ao aproximarmo-nos do final da trama, essa informação começa a pesar um nadinha. Nada de grave, perdoável pela curiosidade que nos desperta o desenlace.

Não fosse o livro publicado segundo o chamado novo acordo ortográfico e teria quatro estrelas. Asssim, ficamo-nos pelas três. Só por isso.

Sines, 19 de Fevereiro de 2016
Joaquim Gonçalves

Do editor:


Inverno de 1864. Sentindo a morte a aproximar-se, Miguel Augusto regressa do Brasil, onde enriqueceu, e instala-se no velho burgo nortenho, no palacete conhecido como Casa das Camélias, com a intenção de perfilhar Teresa Baldaia e torná-la sua herdeira. No mesmo ano, Nicolau Sommersen pensa em fazer um bom casamento, não só para recuperar o património familiar que o tempo foi esfarelando, mas sobretudo para fugir à paixão que sente por Maria Adelaide Clarange, senhora casada e mãe de três filhos. Maria Ema Antunes, prima de Nicolau e governanta da Casa das Camélias, hábil e amargurada com a sua vida, urdirá entre todos uma teia de crimes, segredos e vinganças. Subvertendo as estratégias da narrativa histórica, com saltos cronológicos que deixam o leitor em suspenso mesmo até ao final, "Rio do Esquecimento" descreve com saboroso detalhe a sociedade portuense de Oitocentos e assinala o regresso à ficção portuguesa de uma escrita elegante que consegue tornar transparente a sua insuspeitada espessura.

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