Rio do Esquecimento
Isabel Rio Novo, D. Quixote, Fevereiro 2016
Finalista do Prémio Leya 2015
Terminada a leitura de Rio do Esquecimento, fica-nos a
sensação de ter lido um jornal antigo. Daqueles que se encontram em bibliotecas
ou nas gavetas do esquecimento em casas de famílias antigas.
Admito que, por uma mistura de exiguidade de tempo e
preconceito, apenas folheei o anterior Histórias com Santos, pequeno livro de
contos editado pela Simplesmente, também de Isabel Rio Novo.
Neste romance, agora editado pela D. Quixote, deparamo-nos
com uma escritora madura, sabedora do que quer, daquilo que quer dar e mostrar
e, finalmente, para onde quer levar o leitor.
Não sendo propriamente adepto de avanços e recuos
cronológicos no decorrer de um romance, admito que, neste, tal é feito com tal
mestria que em nenhum momento me senti baralhado.
O sonoro Rio do Esquecimento – lá para o meio perceberão
porque sonoro – transporta-nos para o século de oitocentos, na cidade e região
do Porto, quando os brasileiros de torna-viagem chegam, uns de mãos a abanar,
outros, de paletó e bolsos cheios para gastar na construção de uma vida e
cidade de fausto.
Pelo meio, o romance. Amores, desamores, crime e traições,
tão ao jeito de Camilo.
Isabel Rio Novo muniu-se de vasta informação para nos levar
pela mão em visita às ruas e costumes de um Portugal de fausto e miséria. Ao
aproximarmo-nos do final da trama, essa informação começa a pesar um nadinha.
Nada de grave, perdoável pela curiosidade que nos desperta o desenlace.
Não fosse o livro publicado segundo o chamado novo acordo
ortográfico e teria quatro estrelas. Asssim, ficamo-nos pelas três. Só por
isso.
Sines, 19 de Fevereiro de
2016
Joaquim Gonçalves
Do editor:
Inverno de 1864. Sentindo a morte a aproximar-se, Miguel
Augusto regressa do Brasil, onde enriqueceu, e instala-se no velho burgo
nortenho, no palacete conhecido como Casa das Camélias, com a intenção de
perfilhar Teresa Baldaia e torná-la sua herdeira. No mesmo ano, Nicolau
Sommersen pensa em fazer um bom casamento, não só para recuperar o património
familiar que o tempo foi esfarelando, mas sobretudo para fugir à paixão que
sente por Maria Adelaide Clarange, senhora casada e mãe de três filhos. Maria
Ema Antunes, prima de Nicolau e governanta da Casa das Camélias, hábil e
amargurada com a sua vida, urdirá entre todos uma teia de crimes, segredos e
vinganças. Subvertendo as estratégias da narrativa histórica, com saltos
cronológicos que deixam o leitor em suspenso mesmo até ao final, "Rio do
Esquecimento" descreve com saboroso detalhe a sociedade portuense de
Oitocentos e assinala o regresso à ficção portuguesa de uma escrita elegante
que consegue tornar transparente a sua insuspeitada espessura.
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