Tuesday, May 15, 2007

O Tibete de África

O Tibete de África
Margarida Paredes
Âmbar2006

Para quem nunca esteve em África, como eu, e não é suficientemente informado sobre esse continente, começa por estranhar o título do livro. Lá para o meio da obra ficamos a perceber que tal se deve à beleza natural do Ruanda. Mas não seria pelo seu título que iria ler o livro. Fi-lo a conselho da Sheila, a quem agradeço, e não estou arrependido. Aliás, li O Tibete de África da noite para a manhã, se é que isso possa indicar alguma coisa.
Não ficamos indiferentes à biografia da autora, pressupondo uma relação muito próxima entre a sua vida e a narrativa. Leia-se, obrigatoriamente, a “Nota sobre a autora” que Jean-Michel Mabeko Tali, romancista, historiador e professor de História Africana, faz logo no início.

“Para sairmos do aeroporto de Lisboa tivemos de fazer gincana entre malas, caixotes, lixo e corpos de pessoas deitadas no chão. Como não tinham para onde ir as pessoas dormiam onde calhava” (pág. 57).

O Tibete de África é a África que foi e a que é. As pessoas de então e as de agora, por vezes, exactamente as mesmas, embora em situação diversa. O estigma dos Retornados.
Depois, o retorno do “retornado” a uma África que já não é a mesma. Nunca mais será a mesma.

“Na jóia da coroa um criado negro de libré branca e botões dourados passeia e mima uma criança loura num carrinho de rodas altas e ignora uma criança negra, suja e ranhosa, que chora sozinha no chão” (pág. 84).

Esta é a descrição de uma foto que bem podia ser a capa do livro. Tal como a carrinha de Amândio, com as paredes interiores forradas de livros, bem arrumados – a sua habitação depois da separação.
O Tibete de África é uma viagem. No tempo, No espaço. Nos sentimentos. Também a corrupção, os favores, a mistura da água com o azeite, diga-se, do neo-liberalismo com o marxismo.
Em Kigali, Hutus e Tutsis desfazem um sonho. A ONU deixa o povo ruandês entregue ao seu destino. Casualmente, os protagonistas são testemunhas do massacre.
O Tibete de África não são apenas a Ana Sousa, o Amândio, a Carla e o Justino pelo meio - é uma história de amor onde a vida, tal como no mundo real, se interpõe.
Depois de ler a “Nota sobre a autora” e de ler o próprio livro, salta a curiosidade da visita de Margarida Paredes à livraria no próximo dia 2 de Junho (2007). Tenho a certeza que a história não fica por aqui.

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