Tuesday, March 24, 2009

Chiquita

Chiquita, Antonio Orlando Rodríguez, Quidnovi, Fev 2009

"Era humilhante, e sem dúvida injusto, estar sempre mais perto dos formigueiros do que dos ninhos dos pássaros" (pág. 59).

Chiquita é, para começar, uma história de vida. Da vida de alguém que existiu fisicamente e não apenas na imaginação do escritor. Espiridona Cenda del Castillo, cubana, nascida em 1869. Media sessenta e seis centímetros.

Tendo como veículo a vida da liliputiana, passeamos pela história de Cuba, e não só, da segunda metade do século XIX, acompanhando os movimentos independentistas, contra os colonizadores espanhóis, até à independência; a Nova Iorque e Paris do vaudeville; o espanto dos primeiros automóveis e do novel cinema, entre muita informação bem dissimulada na prosa romanesca.

Do amor à traição, a história de Chiquita é ditada pela “imperiosa necessidade de sobreviver num mundo duro e hostil, no qual todos se arrogavam o direito de maltratar os pequenos” (pág. 108). Pequenos, aqui, no sentido amplo da palavra.

Chiquita foi sobrevivendo a tudo, experimentando tudo, cativando todos, inclusivamente grandes figuras da época, como Satah Bernhardt, que lhe passou cartas de recomendação e iniciou na vida artística; ou o Presidente McKinley dos Estados Unidos da América.

Um misterioso amuleto, com vida própria, e um peixe pré-histórico que entende os humanos, completam o ramalhete.

Apesar do balanço da leitura ser muito positivo, não podemos deixar de lamentar o facto do tradutor (Artur Lopes Cardoso) umas vezes nos familiarizar e facilitar o entendimento do contexto utilizando expressões como “passar as passas do Algarve” e, noutros casos, não faça as equivalências de medidas e peso nos respectivos sistemas utilizados em Portugal. Para já não falar do dado básico da estatura de Chiquita, quem não se distrai da narrativa ao ler frases como a que se segue:

“Charlie pesara nove libras e duas onças, bastante mais que as irmãs mais velhas, Jennie e Libbie, mas, um ano depois, quando media dois pés e uma polegada, parou de crescer” (pág. 111).

Como cábula, aqui ficam algumas correspondências aproximadas:
1 polegada = 2,54 cm
1 pé = 30,48 cm
1 libra = 453,6 g.
1 onça = 28,35 g.


NOTA: Depois da publicação deste post recebemos da Quidnovi informação sobre o assunto de que destacamos o seguinte excerto: "a manutenção das medidas em polegadas foi por opção do autor – embora Cuba utilize o sistema métrico, na época era o sistema inglês que vigorava, e o autor quis mantê-lo propositadamente".
Os nossos agradecimentos.

Joaquim Gonçalves
Sines, Março 2009

3 comments:

Lina said...

Excelente romance. Chiquita é um personagem fascinante e seu tempo é muito bem apresentado.

Carla said...

Estou terminando de ler o livro. para mim está sendo óptimo. Estou num momento de tentar entender o porque de todos se arrogarem no direito de maltratar os mais pequenos ( seja gente, seja paía) e como sobreviver a isso.
excelente leitura

SEVE said...

Grande livro!