Monday, March 30, 2009

O Segredo de Leonardo Volpi

O Segredo de Leonardo Volpi, Fernando Pinto do Amaral, D. Quixote, Março 2009

Digam lá o que quiserem. Li o romance e gostei. Aliás, a parte final, embora sem grandes rasgos de suspense, foi rapidamente devorada.
Não é um romance intelectual mas, sem dúvida, escrito por um intelecto. Com conhecimento de causa – e de causas – apesar de algo datado nas suas referências. Muito onda Maio de 68, Liceu Pedro Nunes, Gambrinus, enfim, referências de uma geração.

Não é, no entanto, menos actual por isso. A comprová-lo:

“Andámos nós a lutar pela liberdade até ao 25 de Abril e agora é isto… A cerveja sem álcool, o café sem cafeína, tudo sem açúcar nem colesterol, tudo desinfectado e sem sabor, segundo as normas da União Europeia ou do mundo a que chama civilizado. Passámos a viver num confortável campo de concentração, numa espécie de Auschwitz da saúde e do bem-estar, ainda por cima com a aprovação da maioria!” (pág. 292).

Mas, como se não chegasse, para além de uma referência final à crise actual, como livreiro, não posso deixar de transcrever este pequeno excerto:

“[…] um tal Alípio Barros, que geria há pouco tempo uma editora de um grupo internacional. Viera de uma fábrica de chocolates e chamava a cada livro um «produto» que era preciso «colocar no mercado». Passara o jantar explicando as suas teorias e tentando seduzir a Vargas, que ele queria cativar para a editora – afinal também ela daria um bom «produto»:
- Como hoje os leitores são basicamente mulheres e você escreve muito sobre elas, o sucesso está garantido. É basicamente uma questão de marketing…”
(pág. 176).

E perguntamo-nos – onde é que já ouvi isto?

Mas O Segredo de Leonardo Volpi é mais do que o tempo e o espaço – Lisboa, Abrantes, uma quinta para os lados do Cartaxo, um monte do Alentejo – é, acima de tudo, uma história de amor e perda. Desencontros que esgotam a vida. A adrenalina da fama e o esvaziamento, não propriamente da perda, mas do seu reconhecimento.
Fernando Pinto do Amaral dá-nos, neste seu primeiro romance, uma história feita de apontamentos que desconfiamos, nalguns casos, de auto-biográficos mas, sobretudo, de um grande espírito observador.


E se, a dada altura, descobrimos que aquilo que sentimos por outra pessoa, afinal, é que é aquilo a que chamam de amor? Mas há coisas que têm o seu tempo...


Joaquim Gonçalves
Sines, Março 2009

Sinopse:

Até onde pode ir o amor? De que matéria é feita a sua luz? Quais são as misteriosas leis da sedução? Valerá a pena matar ou morrer por causa desse jogo sem regras, dessa infinita batalha sem vencedor nem vencido?


Neste romance intenso e cativante Fernando Pinto do Amaral acompanha a história de Rita e da sua paixão funesta por Leonardo Volpi, um músico brilhante que fez carreira entre Portugal e o Brasil nas últimas décadas do século XX e se confronta com as suas contradições. Em pano de fundo surgem as outras mulheres que o amaram, mas também um retrato da sua geração e de alguma sociedade portuguesa contemporânea, reflectida no espelho dos seus desejos, dos seus medos e das suas inconfessáveis angústias.

1 comment:

Bia said...

Olá,
Legal o seu blog! Parabéns pelas resenhas!!!

Quando tiver um tempinho, visite o meu!
http://livrosdebia.blogspot.com

Abraços!