Tuesday, June 2, 2009

Manhattan Transfer

Manhattan Transfer
John dos Passos
Presença, 2009
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Manhattan Transfer é um livro a preto e branco. Como o cinema de autor que, em busca de novidade e conhecimento, jovem e meio imberbe, via no estúdio do Império ou no Nimas.
John dos Passos faz-nos sentir assim. Voltar no tempo ao tempo das surpresas.
Dizem os manuais, e o texto da contracapa do livro, que “John dos Passos esboça um retrato fiel da América, captando o verdadeiro espírito da cidade de Nova Iorque pelo olhar, bastante próximo do registo cinematográfico”.
Não é fácil dizer menos que isso. Desde as primeiras páginas que nos sentimos frente a uma tela onde acções intercaladas vão tecendo uma teia que resulta na história. A do livro, a de Nova Iorque, a da América. Mas também a história de um tempo com tempo. Apesar do ritmo alucinante da escrita, que obriga a uma atenção redobrada de forma a que não percamos o fio à meada.
O poder descritivo de John dos Passos é soberbo. Não se limita a dizer que o jovem usa uma gravata às riscas. A aguarela da moda é-nos dada pela vestimenta de “colete debruado a branco e uma gravata às riscas verdes, azuis e roxas” (pág.136). Será um exemplo de somenos mas, confira o leitor, é um dos muitos que, juntos, compõem a paisagem humana e social do início do século XX.
A imigração, a pobreza, mas também a soberba, os expedientes, a inveja, mas também a solidariedade, ainda a violência dos tempos são, não os condimentos, mas o caldo em que Dos Passos faz marinar este cruzamento de vidas que é Manhattan Transfer.
Este é um livro realista. Sem piedade. É bom que, ao lê-lo, não vamos atrás do seu ritmo vertiginoso. Para o entender melhor.
Joaquim Gonçalves, Maio 2009

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