Monday, March 7, 2011

Revista LER edição Especial número 100

LER edição especial número 100

É a primeira vez que, neste cantinho, não falo da leitura de um livro e debruço-me sobre uma revista. Mas isso é um meio engano. É que, independentemente da qualidade dos 99 números anteriores, a edição especial número 100 da revista LER lê-se como um livro, tal é a densidade e qualidade do seu conteúdo.

Já era habitual a ansiedade do fim do mês a aguardar a chegada de mais um número da revista LER. Porque a deste mês completa 100 números já publicados e prometia algumas alterações no alinhamento usual a inquietação era maior.

Comecemos pelo que, na minha perspectiva, é o mais importante. Uma entrevista e um artigo, excerto de um ensaio, dignos de antologia. O artigo é assinado por Harold Bloom e é um excerto de Genius que a revista adianta vir a ser brevemente publicado em Portugal. Um ensaio em que o célebre crítico literário norte-americano aponta 100 exemplos de génios criativos da História da Literatura. Mas o discurso não se limita a apontar, sendo muito interessante o conceito de génio. Atenção à recente edição, pela Temas e Debates, do seu “O Cânone Ocidental. Os grande livros e os escritores essenciais de todos os tempos”.

A entrevista é de Beata Cieszynska e José Eduardo Franco, professores da Universidade de Lisboa, a George Steiner.

Uma conversa entre académicos em que, como nos é referido em introdução, “cada resposta deste mestre do nosso tempo – ensaísta, crítico literário e professor em Cambridge – é uma lição que deve ser digerida com atenção. George Steiner cruza temas como o ensino, as redes sociais, as exigências da leitura e faz revelações sobre a literatura portuguesa. «Lobo Antunes é um gigante, o maior escritor português da actualidade.»”.

Já comecei a pôr em prática um dos seus ensinamentos – Desligo a música para ler. Quem sabe, sabe!

Em jeito de retrospectiva, uma cuidada selecção que completa 100 nomes, livros e que ajustam contas com a nossa memória, justificando-se em Ponto Final a impossibilidade de caberem tantos outros merecidos nomes. 100 é cem!

Confesso que não tive grande paciência para o Grande Quiz já que, tendo lido todas as perguntas, apenas serviu para atestar a minha grande ignorância.

A mestria e acutilância, com muita bonomia, habituais de Francisco José Viegas patentes no Editorial e no Diário de Ocasião onde, se não escapa nada, pelo menos não escapa o que é importante. Depois da euforia do número 100 volte, Francisco, com as opiniões sobre o ensino, especialmente o da Língua Portuguesa.

Depois há os textos dos vários colunistas, todos eles focados no número 100, a piada de algumas das 100 ideias para o futuro que foram pedidas a igual número de pessoas ligadas a diversas áreas do saber, predominantemente ligadas à literatura e aos livros, mas não só. A piada de algumas ideias e a seriedade de outras.

Confesso que, desta vez, li tudo, absolutamente tudo!

A completar o cabaz, embora pareça uma gracinha, é magistral a selecção de citações em rodapé de diversas personalidades que já se passearam pelas páginas da revista. Cada uma delas um ensinamento, um convite à reflexão. Mais uma vez, um ajuste de contas com a nossa memória. Apetece-me pegar em várias delas e espalhá-las pela livraria – nas prateleiras, no meio dos livros, pelo chão…

Obrigado à LER, ao Francisco José Viegas e ao João Pombeiro por esta monumental edição.

Parabéns a todos nós, leitores, por termos o privilégio de usufruirmos da qualidade da LER.

Joaquim Gonçalves
Sines, 7 de Março de 2011

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