Claraboia
José Saramago, Caminho, Setembro 2011
José Saramago terminou Claraboia a 5 de Janeiro de 1953. Eu ainda não tinha nascido e o Nobel português andava na casa dos trinta.
O romance agora editado nunca viu a luz do dia enquanto o Autor foi vivo. Não foi o seu primeiro romance. Antes disso, em 1947, já saíra à estampa Terra do Pecado e, depois disso, Saramago só voltou à arte romanesca em 1977 com o seu Manual de Pintura e Caligrafia. A partir daí foi aquilo que sabemos, até ao Nobel e depois do Nobel.
Diz o autor nascido na Azinhaga, em badana de contra-capa, que Claraboia “é a história de um prédio com seis inquilinos sucessivamente envolvidos num enredo”. E continua: “Acho que o livro não está mal construído. Enfim, é um livro também ingénuo, mas que, tanto quanto me recordo, tem coisas que já têm a ver com o meu modo de ser”.
E tem, sim senhor! Para quem saiba um mínimo sobre o Autor, a sua vida e a sua obra, muitas das características já são evidentes neste romance precoce da sua carreira.
Aqui se mostra o povo, no caso, o povo da cidade: o sapateiro, a senhora por conta, o tipógrafo, a menina secretária, a “doméstica” revoltada e por aí fora.
Aqui se fala de vizinhança e inveja, amores e ódios. Claraboia fala da vida, pois então!
“A vida é uma luta de feras, a todas as horas em todos os lugares. É o «salve-se quem puder», e nada mais. O amor é o pregão dos fracos, o ódio é a arma dos fortes. Ódio aos rivais, aos concorrentes, aos candidatos ao mesmo bocado de pão ou de terra, ou ao mesmo poço de petróleo. O amor só serve para chacota ou para dar oportunidade aos fortes de se deliciarem com as fraquezas dos fracos. A existência dos fracos é vantajosa como recreio, serve de válvula de escape” (págs. 390/1).
Já aqui Saramago era observador da vida que o rodeava. Da sociedade mas também das paisagens e ambientes, neste caso, urbanos. Do pequeno apartamento até à tasca.
Apesar de ainda ortodoxo no discurso e na pontuação, Saramago já era Saramago.
A clarabóia, chapéu que cobria a vida daqueles seis inquilinos do romance, continua a encimar a casa onde vivemos. O mundo não mudou tanto como aparenta.
Sines, 1 de Novembro de 2011
Joaquim Gonçalves
José Saramago, Caminho, Setembro 2011
José Saramago terminou Claraboia a 5 de Janeiro de 1953. Eu ainda não tinha nascido e o Nobel português andava na casa dos trinta.
O romance agora editado nunca viu a luz do dia enquanto o Autor foi vivo. Não foi o seu primeiro romance. Antes disso, em 1947, já saíra à estampa Terra do Pecado e, depois disso, Saramago só voltou à arte romanesca em 1977 com o seu Manual de Pintura e Caligrafia. A partir daí foi aquilo que sabemos, até ao Nobel e depois do Nobel.
Diz o autor nascido na Azinhaga, em badana de contra-capa, que Claraboia “é a história de um prédio com seis inquilinos sucessivamente envolvidos num enredo”. E continua: “Acho que o livro não está mal construído. Enfim, é um livro também ingénuo, mas que, tanto quanto me recordo, tem coisas que já têm a ver com o meu modo de ser”.
E tem, sim senhor! Para quem saiba um mínimo sobre o Autor, a sua vida e a sua obra, muitas das características já são evidentes neste romance precoce da sua carreira.
Aqui se mostra o povo, no caso, o povo da cidade: o sapateiro, a senhora por conta, o tipógrafo, a menina secretária, a “doméstica” revoltada e por aí fora.
Aqui se fala de vizinhança e inveja, amores e ódios. Claraboia fala da vida, pois então!
“A vida é uma luta de feras, a todas as horas em todos os lugares. É o «salve-se quem puder», e nada mais. O amor é o pregão dos fracos, o ódio é a arma dos fortes. Ódio aos rivais, aos concorrentes, aos candidatos ao mesmo bocado de pão ou de terra, ou ao mesmo poço de petróleo. O amor só serve para chacota ou para dar oportunidade aos fortes de se deliciarem com as fraquezas dos fracos. A existência dos fracos é vantajosa como recreio, serve de válvula de escape” (págs. 390/1).
Já aqui Saramago era observador da vida que o rodeava. Da sociedade mas também das paisagens e ambientes, neste caso, urbanos. Do pequeno apartamento até à tasca.
Apesar de ainda ortodoxo no discurso e na pontuação, Saramago já era Saramago.
A clarabóia, chapéu que cobria a vida daqueles seis inquilinos do romance, continua a encimar a casa onde vivemos. O mundo não mudou tanto como aparenta.
Sines, 1 de Novembro de 2011
Joaquim Gonçalves
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2 comments:
Li «Todos os nomes» de Saramago faz pouco tempo,e fiquei com muita vontade de conhecer mais obras dele. Só li dois até agora da obra do Nobel. Este Claraboia será o próximo que vou adquirir, concerteza.
http://silenciosquefalam.blogspot.com/2011/10/todos-os-nomes-jose-saramago.html
Gosto muito da obra de José Saramago ! Sem dúvida, um dos próximos a ler !
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