Saturday, May 5, 2012

O intrínseco de Manolo


O intrínseco de Manolo
João Rebocho Pais, Teorema, Abril 2012

Chamam-lhe Manolo mas não é espanhol. O seu nome é Manuel, bem português, Manuel Novo, alentejano da aldeia raiana de Cousa Vã.

“Em época de crise, como eram quase todas por ali, Cousa Vã perdi o pouco encanto que em tempos idos, muito idos, havia agarrado as pessoas à terra, deixando que o canto da sereia da grande cidade e do litoral levasse de vez o futuro, apagando subtilmente um passado feito por pessoas fantasmas, que se esbatiam e empalideciam em velhas fotografias, em arrumadas caixas cobertas por camadas de pó e esquecimento” (pág. 121).

Manolo é, à boca pequena, apodado de boi.

Entre a lida agrícola e o balcão da venda, passa horas debaixo de uma azinheira secular e frondosa, confidente de segredos e mágoas. Em casa, a sua Maria que, às sextas-feiras, desaparece. Até à manhã do dia em que o carteiro lhe deixa uma carta.

Depois disso a vida do casal mudou. Tudo mudou. Mas o narrador descobre-nos coisas que os personagens não sabem uns dos outros. E, aqui, o Autor compõe figuras absolutamente incríveis nas suas atitudes, misérias, alegrias e frustrações.

João Rebocho Pais, citadino de Olivais Sul, consegue transportar-nos para um Alentejo de linguagem peculiar, de paisagem única.

Sem que se conte a história, vale a pena citar que “Manolo entregou o mundo que tanto teria sonhado um dia encontrar, entregou-o nas mãos do acaso e suas vestes; desejava apenas, rezava até talvez, que soubesse o mundo dos homens fazer dos dias iguais dias de valer a pena” (pág. 143).

“O intrínseco de Manolo”, um livro que se começa a ler com a curiosidade por um novo autor e que se acaba com a vontade de ler mais.

Joaquim Gonçalves
Sines, 5 de Maio de 2012

No comments: