O intrínseco de Manolo
João Rebocho Pais, Teorema,
Abril 2012
Chamam-lhe Manolo mas não é
espanhol. O seu nome é Manuel, bem português, Manuel Novo, alentejano da aldeia
raiana de Cousa Vã.
“Em época de crise, como eram quase todas por ali,
Cousa Vã perdi o pouco encanto que em tempos idos, muito idos, havia agarrado
as pessoas à terra, deixando que o canto da sereia da grande cidade e do
litoral levasse de vez o futuro, apagando subtilmente um passado feito por
pessoas fantasmas, que se esbatiam e empalideciam em velhas fotografias, em
arrumadas caixas cobertas por camadas de pó e esquecimento” (pág. 121).
Manolo é, à boca pequena,
apodado de boi.
Entre a lida agrícola e o
balcão da venda, passa horas debaixo de uma azinheira secular e frondosa, confidente
de segredos e mágoas. Em casa, a sua Maria que, às sextas-feiras, desaparece.
Até à manhã do dia em que o carteiro lhe deixa uma carta.
Depois disso a vida do casal
mudou. Tudo mudou. Mas o narrador descobre-nos coisas que os personagens não
sabem uns dos outros. E, aqui, o Autor compõe figuras absolutamente incríveis
nas suas atitudes, misérias, alegrias e frustrações.
João Rebocho Pais, citadino
de Olivais Sul, consegue transportar-nos para um Alentejo de linguagem
peculiar, de paisagem única.
Sem que se conte a história,
vale a pena citar que “Manolo entregou o
mundo que tanto teria sonhado um dia encontrar, entregou-o nas mãos do acaso e
suas vestes; desejava apenas, rezava até talvez, que soubesse o mundo dos
homens fazer dos dias iguais dias de valer a pena” (pág. 143).
“O intrínseco de Manolo”, um
livro que se começa a ler com a curiosidade por um novo autor e que se acaba
com a vontade de ler mais.
Joaquim Gonçalves
Sines, 5 de Maio de 2012
No comments:
Post a Comment