O silêncio
Teolinda Gersão,
Sextante, 1981
Se há palavras que se possam consideras mágicas, silêncio
estará certamente no topo da lista. Como a própria palavra magia. Por tudo o
que nos reporta de ilusório, de inalcançável.
O silêncio existe quase que apenas na nossa cabeça, na
imaginação. Quando o silêncio dói torna-se ruidoso. O som do silêncio.
Não é vergonha não ter lido alguns autores. Nem sequer
muitos autores. Porque são imensos. Não é vergonha não ter lido este ou aquele
que escreve na língua que falamos. Até porque lemos outros!
Servirá este preâmbulo para justificar, afinal um pouquinho
envergonhadamente, a ausência de leitura, até há bem pouco tempo, de qualquer
obra de Teolinda Gersão. Nunca é tarde.
Quando foi editado “A cidade de Ulisses” li-o gulosamente.
Com encanto. Outra palavra mágica. E mágica é a escrita de Teolinda, a deixar
água na boca. Mas não é motivo para tal porque, lá para trás, há uma obra
profícua para rebuscar.
Foi assim que cheguei a “O silêncio”, romance publicada em 1981
e nesse ano galardoada com o Prémio Literário de Ficção do PEN Clube, não como
ponto de chegada mas, de certeza absoluta, como estação de passagem. A lembrar
ambientes para onde me transportaram, por exemplo, Ana Teresa Pereira ou
Marguerite Duras.
Refere Maria Teresa Horta, em nota de badana: “Um dos livros
que eu mais amei nos últimos anos”; e Vergílio Ferreira: “E findo o livro, uma
obscura alegria me tomou, contentamento quase clandestino, o de ter mais um
cúmplice, nesta loucura de encher a vida a escrever romances. Como se numa
multidão indiferente alguém erguesse a voz para me saudar. Como se num deserto
alguém esperasse para lhe passar testemunho. Como se de repente eu fosse menos
louco”.
Quanto ao conteúdo propriamente dito, valho-me da nota de
contra-capa: “O silêncio é uma
história de amor. Um diálogo entre Afonso, um cirurgião famoso de meia-idade, e
a jovem Lídia, que se torna sua amante e o liberta de um casamento convencional
e frustrado.
Lídia fala de si, de sua mãe, Lavínia, do seu modo inquieto
de olhar o mundo. Mas o que Lídia conta é exactamente o que Afonso não quer
ouvir.”
Teolinda Gersão, do que dela li, é sensibilidade. Um ponto
de passagem para estádios superiores da individualidade de cada um. Do nosso eu
mais profundo.
Joaquim Gonçalves
Sines, 30 de Abril de 2012
1 comment:
Eu li quase toda a obra de Teolinda Gersão. E este 'O Silêncio' foi um dos primeiros. Faz parte de uma trilogia Os Anjos, Silêncio e Teclados (este o que mais gostei, por questões pessoais.
Apreciei com prazer 'A Árvore das Palavras'.
Muito bom conhecer seu espaço.
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