Saturday, June 29, 2013

Um quarto desconhecido



Um quarto desconhecido
Dalmon Galgut, Alfaguara, Maio 2011

Talvez por deformação (ou formação!) profissional, por vezes, quando estou a ler um livro, já me estou a lembrar de amigos ou clientes a quem o recomendar. Às vezes, porque lhes conheço alguns gostos, outras, porque, dado o prazer que me está a dar a leitura, gostaria de partilhar.

Quando estava no início da leitura, disse-me um conhecido (e conceituado, diga-se!) escritor e crítico literário que este era um livro bom, mas estranho.

Continuei, paulatinamente, a minha ledura e fui confirmando as duas coisas. Uma, mais do que outra. Chegado ao fim, é um excelente livro, na verdade.; um pouco estranho, sim, mas não tanto como me foi apregoado. Estranho, talvez, pela fuga aos cânones a que estamos habituados.

Não sendo propriamente um romance, não sendo na sua essência, um livro de viagens, esta obra de Dalmon Galgut alia as duas coisas, cruzando três viagens mas, acima de tudo, levando-nos às profundezas do ser humano, aos segredos que a ninguém se contam.

É interessante a forma como, sucessivamente, o narrador o é como relator dos acontecimentos, para, logo de seguida, se assumir como protagonista.

São notáveis as descrições do elemento natural, especialmente a paisagem da África do Sul, a dificuldade humana perante a adversidade e, sobretudo, os estados anímicos de quem o autor coloca a viajar connosco.

Encontros e desencontros, com o amor, com o mais profundo do ser, tudo começa com um encontro fortuito mas expectável:

“Enquanto a estrada sobe e desce, há momentos em que consegue ver ao longe e outros em que não consegue ver de todo. Não pára de procurar outras pessoas, embora a imensa paisagem pareça completamente deserta.
[…]
A dada altura, todavia, ao chegar ao cume de um monte, toma consciência de uma outra figura longínqua. Pode ser homem ou mulher, pode ter uma idade qualquer, pode estar a viajar nesta ou naquela direcção, para si ou para longe de si. Vai observando até que a estrada mergulha para lá do seu campo de visão, e ao chegar ao cimo da elevação seguinte a figura torna-se mais nítida, vindo na sua direcção. Observam-se agora um ao outro, embora finjam não o fazer” (p.11).

O amor pode ser muita coisa. Até uma viagem… ou várias!

Sines, 29 de Junho de 2013

Joaquim Gonçalves

1 comment:

SEVE said...

Meu caro amigo gosto muito deste blogue e leio sempre com muita atenção as tuas interessantes crónicas de leitura.

Mas deixo-te esta pergunta: nunca leste um livro mau? um livro que só com muita, muita paciência e querer conseguiste ultrapassar a página 50?