Wednesday, October 16, 2013

A velocidade dos objectos metálicos



A Velocidade dos Objectos Metálicos
Tiago R. Santos, Clube do Autor, Setembro de 2013


Não escrevo sobre livros. Isto é, como crítico. Parece-me que, para o fazer, precisava de ter formação nas áreas das literaturas, que não tive, e leitura de muitos clássicos, que não fiz.

Não sou, apesar disso, imune ao que os livros dizem e à forma como o dizem.

Não tendo os clássicos na bagagem, tenho, todavia, muitos milhares de páginas lidas, umas, mais, outras, menos atentamente.

Não li muitos clássicos, duvido até dessa classificação, mas, dentro do meu ecletismo, consigo fazer escolhas, tomar opções, sobretudo tecer juízos, nos parâmetros que o meu cérebro foi delineando automaticamente com o tempo.

Não escrevendo sobre livros, escrevo a partir de alguns dos que vou lendo. Nunca o faço quando a leitura não me agradou.

É o despertar dos sentidos que a leitura me provoca que leva à escrita. Porque também gosto de escrever e, ao fazê-lo a partir de uma obra de que gostei, como que me aproprio um pouco dela. Ao escrever, o livro torna-se mais um bocadinho meu.

Por outro lado, como livreiro, ofereço a quem me lê, o pulsar que o livro me provocou.

Há livros sobre os quais é fácil escrever. Pela história, pelo enredo, pelo tema, porque são fáceis de trabalhar a partir de uma ou outra situação que se lhe roubo.

Outros, há, que não são pêra doce. Ou porque nos ultrapassam, fazendo-nos sentir pequenos à sua sombra, ou porque são difíceis de traduzir em palavras, ou… ou por muito outro motivo.

Quando as editoras, as que o fazem, apresentam novidades ao livreiro, apostam sempre mais num ou noutro título. Alguns, no entanto, não passam da simples menção ou exibição da capa. Foi o caso.

Sendo, como referi, algo eclético, desde algum tempo que, sem intenção premeditada, tenho uma grande curiosidade por autores novos ou desconhecidos, sobretudo de língua portuguesa.

Aqui chegado, nesta breve arenga em que era pressuposto falar de um livro, tenho de confessar que não consigo. Sinto-me vazio.

É novo, o autor. Chama-se Tiago R. Santos. É o seu primeiro romance, o livro, e tem por título A Velocidade dos Objectos Metálicos.

Não me foi “empurrado” pela editora – fui eu que o escolhi. Deliberadamente. Pela curiosidade de que falei.

Depois de lidas as suas perto de 180 páginas percebemos que é um romance. Até lá, lemos capítulos que são contos com ligações entre personagens. No fim, a cabeça do leitor dá o nó. E o leitor fica, também, com um nó – na garganta. E um vazio no estômago.

Sobre a história que o livro conta não faltam recensões na imprensa. E para aí remeto quem disso queira saber.

Pela minha parte, apenas consigo recomendar veementemente a sua leitura. Lendo-o ficamos a conhecermo-nos melhor e ao mundo em que vivemos.

Tiago Santos é um miúdo com menos de 40 anos. Quantos de nós o somos?

Apostada na capa está a frase: “O mundo dos adultos não é para crianças”. Não é, não.

Era para escrever sobre um livro e acabei por falar mais de mim.

«“Respice finem”.
“Não sei o que é que isso quer dizer”.
“Tens a frase desenhada no braço”.
O rapaz olha para a sua própria tatuagem.
“Olha para o fim, considera o resultado. É isso que quer dizer. Agora já sabes”, acrescenta o velho.» (p. 176).

Depois desta situação, apetece-me dizer: - Agora, tenho que pensar melhor, pai.

Sines, 16 de Outubro de 2013

Joaquim Gonçalves

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