“O que é um escritor?... - perguntas. Tens razão, quem é e o que é. Uma grande nulidade. Não tem títulos, graus, poder. Um negro agora na moda, chefe de uma orquestra de jazz, ganha mais, um oficial da polícia tem mais poder, um comandante dos bombeiros tem mais categoria… Ele sabia. Fez-me notar que a sociedade nem sabia que título oficial conceder a um escritor… tão pouco considerado é. Ora lhe erguem um monumento, ora o atiram para a prisão. Mas, na verdade, um escritor nada é, nem ninguém, para a sociedade, além de se divertir com a pena. Senhor chefe de redacção, ou senhor artista, é assim que se referem a esse escritor. Mas ele não era chefe de redacção, pois nada redigira. Artista não era, porque os artistas têm cabelo comprido e inspiração… ao que se diz. Ora, ele era careca e, quando o conheci, já não fazia nada. Ninguém se referia a ele como senhor escritor, porque, pelos vistos, um título do género não faz nenhum sentido. Ou se é senhor, ou se é escritor… É muito difícil aceitar estas coisas.” (p. 356).
Esta é uma das muitas reflexões que Sándor Márai faz ao longo do seu último livro publicado em Portugal. Outras poderíamos citar de forma a aguçar o interesse por mais este livro do autor do famoso “As velas ardem até ao fim” e, depois, de “A herança de Eszter”. Tal não será necessário já que um dos grandes interesses da obra é a descoberta que, ao longo da leitura, vamos fazendo, não só da evolução da história que serve de suporte aos pensamentos do autor, mas dos diversos temas sobre os quais reflecte.
Não sendo um ensaio, longe disso, o livro leva-nos a territórios mentais que só um pensador com muita experiência tem a clarividência para expor. Por outro lado, conhecendo minimamente a biografia de Márai – não é difícil, está na badana – acabamos por perceber o quanto, através das tais reflexões, o livro terá de autobiográfico.
Todavia, para o leitor mais ligeiro, isso não terá grande importância. O que interessa é a história em si.
Partindo de monólogos, ou quase-monólogos, o escritor húngaro conta a vida de um triângulo amoroso. Mas fala também, e muito, da vida em Budapeste durante a ocupação e sob o regime comunista. É a forma de ver de quem se exilou voluntariamente.
Sándor Márai, que se suicidou em 1989, poucos meses antes da queda do Muro de Berlim, é, também, profundamente actual. Senão, vejamos o desabafo de um dos personagens que foi para os Estados Unidos: “Quem vem de fora, para lá do grande oceano, não entende… Mas, mal nos ambientamos, sucede a qualquer um, como a mim, agora… Também eu penso nisso, e coço o queixo, como quem se esqueceu de fazer a barba. Porque não se pode negar que, aqui, onde se encontra de tudo para todos, com que ter uma boa vida, a alegria… sabes, a verdadeira, a alegria que nos faz sorrir o coração… é como se não existisse. Aqui perto, no Macy, encontra-se verdadeiramente de tudo para se ser feliz na terra. E até fósforos que não precisam de ser acesos num estojo. Mas alegria, lá, não se vende, nem na secção das vitaminas” (pág. 414).
É verdade que do enredo de “A mulher certa” nada falei apesar da sedução do mesmo. No entanto, também é verdade que este livro, inicialmente um livro, depois outro livro e, finalmente um terceiro que juntou todos, acaba por ser, em arte final, um dois em um. No fim, ficamos com a sensação de ter lido um romance e um tratado social-filosófico.
Esta é uma das muitas reflexões que Sándor Márai faz ao longo do seu último livro publicado em Portugal. Outras poderíamos citar de forma a aguçar o interesse por mais este livro do autor do famoso “As velas ardem até ao fim” e, depois, de “A herança de Eszter”. Tal não será necessário já que um dos grandes interesses da obra é a descoberta que, ao longo da leitura, vamos fazendo, não só da evolução da história que serve de suporte aos pensamentos do autor, mas dos diversos temas sobre os quais reflecte.
Não sendo um ensaio, longe disso, o livro leva-nos a territórios mentais que só um pensador com muita experiência tem a clarividência para expor. Por outro lado, conhecendo minimamente a biografia de Márai – não é difícil, está na badana – acabamos por perceber o quanto, através das tais reflexões, o livro terá de autobiográfico.
Todavia, para o leitor mais ligeiro, isso não terá grande importância. O que interessa é a história em si.
Partindo de monólogos, ou quase-monólogos, o escritor húngaro conta a vida de um triângulo amoroso. Mas fala também, e muito, da vida em Budapeste durante a ocupação e sob o regime comunista. É a forma de ver de quem se exilou voluntariamente.
Sándor Márai, que se suicidou em 1989, poucos meses antes da queda do Muro de Berlim, é, também, profundamente actual. Senão, vejamos o desabafo de um dos personagens que foi para os Estados Unidos: “Quem vem de fora, para lá do grande oceano, não entende… Mas, mal nos ambientamos, sucede a qualquer um, como a mim, agora… Também eu penso nisso, e coço o queixo, como quem se esqueceu de fazer a barba. Porque não se pode negar que, aqui, onde se encontra de tudo para todos, com que ter uma boa vida, a alegria… sabes, a verdadeira, a alegria que nos faz sorrir o coração… é como se não existisse. Aqui perto, no Macy, encontra-se verdadeiramente de tudo para se ser feliz na terra. E até fósforos que não precisam de ser acesos num estojo. Mas alegria, lá, não se vende, nem na secção das vitaminas” (pág. 414).
É verdade que do enredo de “A mulher certa” nada falei apesar da sedução do mesmo. No entanto, também é verdade que este livro, inicialmente um livro, depois outro livro e, finalmente um terceiro que juntou todos, acaba por ser, em arte final, um dois em um. No fim, ficamos com a sensação de ter lido um romance e um tratado social-filosófico.
1 comment:
Olá!
Tenho este livro na estante à espera de vez! Depois de ter lido "As Velas Ardem até ao Fim", acabei por comprar este, mas ainda não chegou a sua vez. Estou com curiosidade!
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