Em busca do carneiro selvagem, Haruki Murakami, Casa das Letras, 2007
Dança, dança, dança, Haruki Murakami, Casa das Letras, 2007
Tenho o hábito de desconfiar de grandes sucessos de venda nas grandes superfícies comerciais, grandes grupos e quejandos. Essa desconfiança não impede que dê uma vista de olhos ao livro em questão, até pelo contrário - normalmente aguça a curiosidade e lá estou eu a folheá-lo quando este chega a esta modesta mas e séria "superfície". Assim aconteceu com Kafka à Beira-mar, de Haruki Murakami, quando este foi editado em Portugal com a chancela da Casa das Letras. A sensibilidade do momento levou-me a não entrar na história em que animais caem do céu e se estatelam no chão derramando sangue por todo o lado. Não sei se estou enganado, mas a imagem encontrada numa página aberta ao acaso afligiu-me e não iniciei a leitura. O "calhamaço" foi posto para o lado.
Posteriormente saiu Em busca do carneiro selvagem e lá iniciei o ritual para ver se era desta que descobria o autor japonês tão aclamado internacionalmente. Iniciei o ritual e continuei... até ao fim.
Com um título estranho, o livro não o é menos. Entrando por territórios kafkianos, Murakami prende-nos com um sistema de "pega e larga" - quando a história começa a arrefecer, lá vem mais um motivo para continuarmos a desbravar as suas incursões tantas vezes oníricas e inesperadas.
Já perto do fim de 2007 sai Dança, dança, dança e pronto! Lá peguei no livro, agora mais confiante.
Saindo do ambiente provinciano, de campo, Murakami puxa-nos, agora, para uma vida mais urbana com inúmeras referências musicais de época não largando, no entanto, o esquema do livro anterior. Aliás, uma ou outra vez, ao introduzir personagens na história, abstém-se de as caracterizar, remetendo-nos para isso, para Em busca do carneiro selvagem. Não apreciei isso porque não gosto de sagas e, à primeira abordagem do género, é o que parece que Murakami prepara. Mas não. Quem não leu o livro anterior bem pode ler este sem perder nada.
Em qualquer das obras, o autor transporta-nos - e é disso que gosto quando leio um livro - tira-nos do quotidiano para dimensões só possíveis na imaginação e no sonho. E não andamos todos tão necessitados disso?
"Ponho-me a pensar qual o sentido de escrever o que escrevo. Antigamente não era assim. O mundo era mais à medida dos homens. Assistia-se a uma epécie de reacção, tomávamos o pulso às coisas. Uma pessoa sabia sempre o que estava a fazer - pelo menos gosto de pensar que sim. Sabia o que os outros queriam. Além de que os órgãos de comunicação social existiam a uma escala mais humana. Era quase uma aldeia, onde toda a gente se conhecia" (Dança, dança, dança, pág. 245).
Acho que, um dia, ainda vou ler o Kafka à beira-mar...
Hello world!
1 year ago
1 comment:
Recomendo vivamente o Kafka à Beira-Mar!
Li todos os traduzidos do Murakami, e é sem dúvida o mais maduro e empolgante e inesperado.
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