Wednesday, September 25, 2013

Índice médio de felicidade



Índice médio de felicidade
David Machado, D. Quixote, Agosto 2013

“Numa escala de 0 a 10, quão satisfeito se sente com a vida no seu todo?” (pág. 24)

Quantas vezes, se alguma, paramos para pensar numa pergunta deste género? É possível que algumas. A questão, talvez, formulada de outra maneira e, nesse caso, possivelmente, numa situação extrema – ou crise ou muita felicidade.

Tomando como fio condutor esta questão, David Machado escreveu um livro que, penso, não deixará os leitores indiferentes.

A história acabada conta-se em cerca de 250 páginas, pela voz de um narrador, aliás, de um personagem que fala com um amigo ausente, na prisão, mas como se o mesmo o estivesse a ouvir. A conversa gira à volta destes dois e de um outro, Xavier, também ausente, que fecha o trio.

“Por causa da esperança ficamos com a vida cheia de pontas soltas. Não é bom acordar todos os dias com a vida cheia de pontas soltas.” (pág. 250)

Falar deste livro era uma ponta solta que me perseguia desde que, a alguns dias, terminei a sua leitura.

Mas há sempre uma e outra coisa que se nos atravessa na vontade e impede-nos daquilo a que nos propusemos. Como… ser feliz. Este será o objectivo intrínseco à raça humana sem que seja necessário que alguém, à nascença, nos industrie sobre isso. É natural.

O problema é que, ao mesmo tempo que o corpo cresce, parece que a mente atrofia e vai deixando abandonar o objectivo da vida.

O bom e o mau na nossa cabeça é relativizado por uma balança virtual e moldado por nós mas, também, é certo, por factores sobre os quais não temos poder.

“[…] não deveríamos precisar de dias maus para dar valor aos bons, essa alegria deveria existir sempre, não apenas nos momentos de alívio. Mas estamos condenados por esta obsessão em relativizar tudo. Aqui e agora nunca são suficientes, Estamos numa luta contínua, impossível de resolver, porque não aceitamos menos, porque queremos sempre mais” (pág. 253-4).

O título e a capa deste novo romance de David Machado, podem induzir em erro. Índice médio de felicidade não é um livro espiritual ou de auto-ajuda. Depois de Deixem falar as pedras, a sua obra anterior, o autor volta a surpreender.

Sejam, como eu fui, felizes nesta leitura.

Sines, 24 de Setembro de 2013

Joaquim Gonçalves

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