Índice médio de felicidade
David Machado, D.
Quixote, Agosto 2013
“Numa escala de 0 a
10, quão satisfeito se sente com a vida no seu todo?” (pág. 24)
Quantas vezes, se alguma, paramos para pensar numa pergunta
deste género? É possível que algumas. A questão, talvez, formulada de outra
maneira e, nesse caso, possivelmente, numa situação extrema – ou crise ou muita
felicidade.
Tomando como fio condutor esta questão, David Machado
escreveu um livro que, penso, não deixará os leitores indiferentes.
A história acabada conta-se em cerca de 250 páginas, pela
voz de um narrador, aliás, de um personagem que fala com um amigo ausente, na
prisão, mas como se o mesmo o estivesse a ouvir. A conversa gira à volta destes
dois e de um outro, Xavier, também ausente, que fecha o trio.
“Por causa da
esperança ficamos com a vida cheia de pontas soltas. Não é bom acordar todos os
dias com a vida cheia de pontas soltas.” (pág. 250)
Falar deste livro era uma ponta solta que me perseguia desde
que, a alguns dias, terminei a sua leitura.
Mas há sempre uma e outra coisa que se nos atravessa na
vontade e impede-nos daquilo a que nos propusemos. Como… ser feliz. Este será o
objectivo intrínseco à raça humana sem que seja necessário que alguém, à
nascença, nos industrie sobre isso. É natural.
O problema é que, ao mesmo tempo que o corpo cresce, parece
que a mente atrofia e vai deixando abandonar o objectivo da vida.
O bom e o mau na nossa cabeça é relativizado por uma balança
virtual e moldado por nós mas, também, é certo, por factores sobre os quais não
temos poder.
“[…] não deveríamos
precisar de dias maus para dar valor aos bons, essa alegria deveria existir
sempre, não apenas nos momentos de alívio. Mas estamos condenados por esta
obsessão em relativizar tudo. Aqui e agora nunca são suficientes, Estamos numa
luta contínua, impossível de resolver, porque não aceitamos menos, porque
queremos sempre mais” (pág. 253-4).
O título e a capa deste novo romance de David Machado, podem
induzir em erro. Índice médio de
felicidade não é um livro espiritual ou de auto-ajuda. Depois de Deixem falar as pedras, a sua obra
anterior, o autor volta a surpreender.
Sejam, como eu fui, felizes nesta leitura.
Sines, 24 de Setembro de 2013
Joaquim Gonçalves
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